Neste final do ano de 2023 a esperança que cada um de nós carrega no seu coração terá de se sobrepor às crises, às tragédias, aos sofrimentos.
Ao caminhar pela sociedade, olho para muitos rostos que, desanimados com as pedras e espinhos que vão encontrando nos seus percursos, dificilmente conseguem voltar a acreditar que é possível construir um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário, em que o bem comum se sobrepõe aos interesses e ambições individuais.
Tenho para mim que a Justiça, a Saúde e a Educação são os pilares de uma sociedade que deve adotar políticas que coloquem, sempre, no centro a pessoa humana que lhe permita alcançar que é a sua existência que nos motiva a fazer mais e melhor para que nunca ninguém sinta que há uma pessoa que vale mais que a outra.
Certo ano fomos com os nossos jovens do 10.º ano de catequese a Lisboa. Muitos deles nunca haviam saído da Região e por isso estavam entusiasmadíssimos. Logo que aterrámos em Lisboa, o autocarro levou-nos a Sintra, onde muitos jovens viram algumas semelhanças com o Monte, e depois seguimos pelo Guincho em direção à Presidência da República em Belém. Ao passarmos por Cascais, uma jovem, hoje mulher, disse-me: “... Catequista eu vejo estas imagens nas novelas e eu gostava, tanto, de ser uma menina de Cascais...”. Depressa lhe disse “... querida que bom que é uma linda menina madeirense e que tem a oportunidade de crescer no seio de uma família, de uma comunidade, que a ama e que quer tanto que seja feliz. Creia que esse é o bem mais precioso que pode ter.” Depois de algumas trocas de impressões no grupo, lá foram alcançando que nem sempre o que reluz é ouro e que a vida daquela menina da Madeira, todas as suas experiências, vivências e dificuldades são tão importantes como as das meninas de Cascais.
Efetivamente, o que nos caracteriza, o que nos define é a nossa capacidade de fazer o bem, com especial preocupação pelos que mais sofrem com um profundo sentimento de humanidade e humildade.
Num ano em que a inflação atingiu níveis históricos, em que a taxa de pobreza de 2022 é maior do que em 2019 e 2021, em que o índice que mede as desigualdades da distribuição de rendimentos voltou a subir para os níveis próximos de há oito anos, em que os conflitos se agudizaram e em que 2023 foi o ano mais mortal no Mediterrâneo, urge continuar a caminhar com uma firme esperança que os decisores políticos serão capazes de fazer mais e melhor, sobretudo pelos que mais sofrem.
Que o Deus que se fez Menino em Belém, que é verdadeiramente o rosto do Amor, “possa inspirar as autoridades políticas e todas as pessoas de boa vontade ... para se encontrarem soluções idóneas a fim de superar os dissídios sociais e políticos, lutar contra as formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, aplanar as desigualdades e enfrentar o doloroso fenómeno das migrações”.
No dia de Natal, em casa de uns amigos que são como família, o Rodrigo, um menino com 12 anos de idade e com paralisia cerebral, perguntou: “Paulinha ouviste a mensagem do Papa Francisco?”. Disse-lhe que, ainda, não tinha escutado as palavras do nosso Papa. Eis, então, que o Rodrigo me diz: “..., pois o Papa Francisco pediu para que acabassem as guerras. Olha, Paulinha, um Feliz Natal com muita saúde e que acabem as guerras.”.
Que neste ano de 2024 cada um de nós possa contribuir para que o mundo, a sociedade, se torne num lugar sagrado que respeita a individualidade de cada pessoa, valorizando-a, sem que se faça aceção de pessoas por virtude do seu lugar de nascença, credo, religião. E que cada decisor e interveniente político alcance que “a política exige dádiva, solidão e sacrifício, pois implica um certo morrer para si mesmo”, almejando, sempre, o bem comum.
Crê Rodrigo que tudo faremos para que acabem as guerras! Feliz Ano de 2024.