Eu sou do tempo em que o Regime Chavista iniciou a sua revolução para “salvar” a Pátria. Foram Golpes de Estado, tiroteios, intervenções em cadeia em todas as televisões do País. Para alguns, este militar seria o herói, para a nossa família, era um radical que estava prestes a assumir o controle do país, não sabíamos se isso seria bom ou mau. Restava esperar para ver. Com o passar do tempo, ser empreendedor tornou-se um verdadeiro inferno, apenas com deveres e limitações cada vez maiores. A insegurança também aumentava. Até que chegou a nossa vez de sermos assaltados à mão armada em plena via pública. Se estamos vivos foi porque não oferecemos resistência e deixamos ir o que havíamos conquistado com tanto esforço. A mesma sorte não teve a família que, poucas horas depois, foi assaltada no mesmo lugar, mas que tentou defender o que era seu.
Os meus pais decidiram voltar à Madeira e começar do zero. Nos anos 90, era incomum um imigrante ficar na ilha, em vez de passar cá os meses de verão e comprar “meia vaca” para demonstrar que estava bem na vida. Hoje, somos mais de 12 mil Venezuelanos na Madeira que sobrevivem com a ajuda de familiares e com muito trabalho, algo que não assusta a qualquer pessoa que já tenha saído do seu país à procura de uma vida melhor.
Enquanto conseguimos escapar a tempo, ainda que “com uma mão à frente e outra atrás”, milhões continuam nas ruas da Venezuela lutando pela liberdade, pela democracia, defendendo a escolha legítima do povo. O discurso e a lavagem cerebral engendrada pelo Militar Hugo Chavéz, camuflado de patriotismo e defesa dos pobres, transformou-se em miséria. Recursos básicos são escassos, há discórdia e tortura para aqueles que lutam pelos seus direitos. Até que “nos quitaron tanto que nos quitaron el miedo”.
Os meus olhos estão fixos na admirável forma como Maria Corina Machado e os seus apoiantes conduzem este caminho para a liberdade na Venezuela. Frases como a do novo Presidente, Edmundo Gonzalez Urrutia (sim, ele é o novo Presidente da Venezuela), “la verdad es el camino a la paz” ecoam em minha mente e onde “Nosotros no promovemos la violência, y salir a protestar cívica e pacificamente no es violencia. No vamos a renunciar a nuestro derecho a la protesta cívica”. Nestas manifestações, prevalece a esperança e a visão de um futuro melhor, onde cada um é responsável. Crianças, jovens, adultos, idosos, famílias inteiras manifestam-se com garra, de forma harmoniosa. Apresentam ao mundo, com factos, que o que está a acontecer é horrível e que ninguém pode ficar indiferente. Com borboletas na barriga e o coração acelerado, assisto a este momento histórico no país que me viu nascer e onde vivi a minha infância, liderado por uma mulher visionária e liberal, que enfrenta o regime chavista ano após ano, mesmo quando ninguém acreditava nas suas capacidades. Mesmo quando foi agredida e ameaçada, mesmo quando viu os seus apoiantes serem mortos e sequestrados. Ela traçou este caminho utilizando palavras de paz, esperança e, acima de tudo, com uma integridade avassaladora. A sua capacidade de comunicar, explicando o mais básico com uma linguagem acessível a todos, é algo que nunca vi em político algum.
A repressão para com os que se recusam aceitar os dados da CNE na Venezuela vai aumentar, pois é isso que os fracos fazem: atacam com agressividade.
Que a verdade e a manifestação pacifica prevaleça e seja grande vencedor e a inspiração para o resto do Mundo. “Hasta el final”.