”Amo-te, mas...” — uma frase ou pensamento muito comum que podemos não dizer, mas que muitos de nós sentem.
Alguém foi visitar uma prima idosa, que está internada há anos, repara que quase ninguém a visita. Fiquei a pensar na razão pela qual ela é tão pouco visitada. Tinha muitos amigos e tem família, mesmo que de parentesco distante. A razão que nos leva a visitar alguém é, normalmente, o amor. No amor existe a saudade. Gostamos dessa pessoa. Visitar é dar amor. Mas será que damos amor gratuitamente? Sem cobrar nada ao outro?
Ela tem demência, já não agradece nem dá sorrisos.
Ela não tem filhos nem bens. Será que, se tivesse, teria mais visitas?
A história dela é uma entre muitas. Porque o mundo, erradamente, nos convence de que o amor é grátis, que receber ou dar amor não implica fazer nada, mas implica. A demência protege esta senhora de enfrentar esta triste realidade. E nós?
Hoje é o dia do meu aniversário, dia de Nossa Senhora do Monte, nasci noutro século ou noutra época?
Hoje, podemos amar de muitos modos e receber amor de muitos outros, mas a maioria não é grátis! Cobramos e somos cobrados. Será a época das relações utilitárias/vantajosas?
Por onde andam as cedências por amor que fazíamos sem cobrar?
Vamos começar pelo amor de pais para filhos, o mais publicitado como grátis/incondicional. Será que é?
Começo pelos modernos “chás de revelação”. As redes estão cheias destes vídeos onde é notório ver, em alguns pais, a desilusão. O bebé, na barriga da mãe, já está a ser cobrado com um amor condicional. Os filhos já falham antes de saírem da barriga da mãe?
Será a expectativa um amor cobrado?
O filho tenta responder às expectativas e sofre quando não as cumpre. Inteligência, aspeto físico ou até comportamento. Há pais que escolhem as escolas dos filhos com o intuito de que eles sejam o que os estes querem. Os filhos sentem quando desiludem e ficam confusos em relação à razão dessa desilusão. O que fizeram? Foram eles próprios?
Falta sempre um “danoninho” para o nosso completo amor incondicional para com os nossos filhos?
Depois, se amamos como nos ensinaram a amar nas nossas primeiras relações, então vamos cobrar como já fomos cobrados nas relações de amizade e amorosas.
No programa “Casados à Primeira Vista”, espelho de muitas relações, é notória a cobrança. Todos têm listas de exigências (idade, aspeto físico, personalidade, profissão, etc.). E quanto mais velhos são, mais exigentes parecem ser. Eu só te amo se fores como eu quero?
É mais comum mostrar-se que ter curiosidade em conhecer o outro. Época dos Egos? Eu? E o outro?
Condicionalmente: Se fores como quero, pode ser que...
Incondicionalmente: Vamos conhecer-nos, como deve ser, porque somos seres imperfeitos e cheios de vícios, e podemos ou não encaixar.
E nas relações de amizade? Basta dar amor ou os nossos amigos têm de servir para algo?
Utilitários?
Um dia destes, alguém reclamava de que não tinha ninguém disponível a qualquer hora! Disponibilidade total? Impossível...
O amor cobrado com regras e exigências põe em risco a humanidade. Devia ser grátis.
Nas redes, há vídeos de pessoas a precisar de ajuda, são ignorados pela maioria, e quem ajuda recebe uma prenda muito boa (apanhados). Educar para o prémio no ato de ajudar?
Ajudar, fazer um favor, é uma forma de dar amor grátis, sem prémio.
Se as pessoas estão cada vez mais egoístas, só dando amor grátis podemos combater isto. É difícil, mas possível. Amar sem cobrar! Façam lá o favor...
“Não tememos a morte, tememos que ninguém dê pela nossa falta.”
Ouvi na TV.