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Artigo de Opinião

Médica Veterinária

6/06/2024 08:00

Perante as últimas eleições regionais, é quase certo que “ficou tudo na mesma”, por vontade de uma maioria que é ínfima, face à totalidade da população votante. Mas é este o sistema eleitoral que, por ora, temos. É difícil ficarmos, madeirenses, indiferentes às cenas quase novelísticas da política regional que nos têm imposto uma conjuntura sociopolítica de difícil compreensão à luz dos valores, dos princípios, e da educação democrática. Dizia Brecht, um visionário de clarividência social e política: “Não aceiteis o que é hábito como coisa natural”, muito menos tratando-se de uma política desumanizada, arbitrária, “sem lei nem praxe” que não pode, não deve parecer natural nem tão pouco normalizada!

E mais uma vez tenho de recorrer a Brecht quando definia tão bem o “analfabeto político”, o tal que “odeia a política”, que “não quer saber de política”, que diz que “todos os políticos são iguais”. Por norma estamos perante cidadãos que dispensam o seu direito cívico, o de decidirem nas urnas quem os vai representar, quem vai decidir o valor dos seus salários e pensões e, tão importante, “o (seu) custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer (da casa), do sapato e do remédio”. Mas o pior, continua o autor, de toda esta ignorância, indiferença, alienação e desresponsabilização pelo rumo político de uma sociedade, o cidadão eleitor permite que nasça “o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas (regionais), nacionais e multinacionais.”

Na Madeira somos governados há décadas pela mesma política e o resultado tem estado à vista e tem sido palco de uma envergonhada exposição nacional: somos a região com maior taxa de pobreza em Portugal - e isto não é sequer uma novidade, há anos que assim é, mas não, não é “normal” que assim seja! A pobreza, a fome, a miséria não podem ser normalizadas numa sociedade moral, cívica e eticamente evoluída! Nem pode ser normalizado o analfabetismo, que na região é o segundo mais alto do país; nem a baixa escolaridade de grande parte da população madeirense; nem a elevada emigração nem a baixa natalidade. E todos estes “records da vergonha” ocorrem apesar da quantidade astronómica de dinheiro(s) que nestas décadas provieram da Diáspora, da UE ou do Orçamento de Estado.

E a este “quadro da vergonha” aliam-se perseguições políticas (inclusive intrapartidárias), o nepotismo, o compadrio e o caciquismo, e também uma falta de literacia geral seja socioeconómica ou mesmo política (na dignidade que esta palavra comporta, ou seja, na gestão da polis, para todos os cidadãos).

Ninguém escapa à política (nem sei se mesmo um eremita o conseguirá), mas perante o cenário decorrente das últimas eleições parece que, na região, “as pessoas não acreditam nisto, pois estão demasiadamente preparadas para obedecer a impulsos maquiavélicos e ficam maravilhadas com o domínio do poder.” (D. Pedro V, nas “Cartas ao Príncipe Alberto”).

Na síndrome de Estocolmo, os “cativos” são considerados irracionais à luz do perigo e riscos que correm e deixam de ver no seu agressor uma ameaça e até começam a partilhar os mesmos valores. O mesmo estará a acontecer na política?

Certo é que na política não vale, não pode valer tudo, mas por cá até há partidos minoritários que sob o pretexto eufemístico da “responsabilidade”, da “estabilidade” não resistem à tentação da “gamela de lentilhas” e... vendem-se com a mesma reiteração com que recorro à palavra “vergonha”!

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