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Artigo de Opinião

12/09/2023 08:00

Como o círculo eleitoral em que me autorizam votar não é na Região, mas ao ouvir e ler, com enjoativa insistência, de que não há outra escolha para o eleitor madeirense senão votar no status quo, fui à página da Comissão Nacional de Eleições ver o boletim de voto, ou o menu de alternativas a voto. São treze, os pratos. Doze alternativas, para quase todos os gostos, ao status quo. Podemos discutir a qualidade de cada um desses pratos mas, a julgar pelo volume de lamentos, queixas e acusações ao actual estado de coisas, eu diria que a qualidade do prato do costume não se destaca muito da qualidade atribuída aos outros. Num caso, a qualidade já está testada; nos outros, é o que parece.

É hábito? Ao menos já sabemos do que a casa gasta? Aquele miúdo que pede sempre salsichas com batatas fritas, mesmo que as batatas fritas estejam cozidas e as salsichas rançosas, também tem a certeza de que o bife de atum ali ao lado não é alternativa — mas nunca sequer o prova. Só conhece as salsichas rançosas com palitos mal fritos e tudo o resto é um risco. Com tanta queixa que por aí se ouve e lê, até que ponto não compensará arriscar?

Acham que o estado actual de coisas é o que põe a Madeira em marcha? Votem nos mesmos. Antes pelo contrário, acham que há demasiado compadrio e é preciso mudar? Votem nas comadres do lado, que os actuais compadres ficam sem saia onde se agarrar. Se acham que as comadres do lado são mais do mesmo, que não mudam nada, votem nos refilões, nos asneirões, nos malucos, nos fora-da-caixa ou nos neo-coisas. Da esquerda à direita, com toda a sobrelotação intermédia, não faltam alternativas.

Acreditam que os que lá estão não prestam, mas que os outros doze não são melhores, continuam a ter opção: podem votar em branco, ou transcrever uma estrofe de Manuel Maria Barbosa du Bocage para o boletim de voto. (Aqui há quem sugira artes plásticas, ao estilo da Caldas, mas eu sou parcial em favor das letras...)

Se o vosso problema é votar em perdedores, lembrem-se de que as eleições não são um jogo cujo objectivo é acertar em quem vai ganhar. Não ganham nada se acertarem e até é mais provável perdermos todos. Lembrem-se, também, de que ninguém sabe em quem votaram a não ser que o publicitem. Podem até cometer a hipocrisia de votar no partido menos popular do recreio, se for esse o vosso favorito, para depois ir para a rua celebrar a vitória seja de quem for.

Se fosse eu a votar, permitam que meta a colher, escolheria quem me pareça com mais vontade de gerir e menos de governar, de meter o bedelho na vida alheia, de fazer leis como se comem tremoços. Mas não vou votar, repito. Não posso e, mesmo que pudesse, não sou de impor aos outros a minha preferência — de vez em quando lá ponho o boletim, em auto-defesa e sempre derrotado. Apesar de não ter palavra (que seria diminuta, quase inexistente, do tamanho de um voto) nestas eleições regionais, não consigo deixar de achar pouco honesto insistir nesta falácia de que não há alternativa. Partidos, são treze. Opções de voto, incluindo a do sofá, são dezasseis. Uns podem parecer, logo à partida, tão ou mais incompetentes quanto os incumbentes dos cargos a eleição, mas nunca o saberemos se não forem postos à prova.

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