Escreve Sílvia Sousa Silva, num post do Facebook - não deixando de explicar que as suas críticas são as que sempre fez, e, por isso, estão longe de ser aproveitamento político da situação, mas genuína dor e sofrimento por saber que o que está a acontecer nas nossas serras, destruindo as populações e o seu modo de vida, ferindo de morte a natureza, podia ser mitigado -: "É [...] inadmissível que antigos dirigentes, fazedores e manipuladores de opinião, com responsabilidade na matéria, subam ao palco para apontar falhas quando, eles próprios estão na origem do modelo que afastou a população, proibiu o pastoreio e o envolvimento ativo e viável dos proprietários, promoveu o abandono dos terrenos e a proliferação descontrolada das invasoras através da gestão pública das propriedades florestais que proíbe quase toda a atividade silvícola."
Juntemos a esta conjuntura as pragas não controladas que atacam as culturas e temos realizada a ameaça de Lúcifer a Doutor Fausto. Não o vejamos como castigo divino, mas como castigo da incúria humana.
Depois há a bitcoin. É tão, tão importante que o Presidente do Governo Regional concluiu que era imprescindível estar na Holanda, em detrimento de estar perto do seu povo que sofria, porque tinha de conversar com um Príncipe, num palco, a construir uma Madeira que só ele conhece e a explicar que somos o máximo na tecnologia e que vamos ter um Centro de Bitcoin na Madeira. Afinal, a Bitcoin não precisa de florestas, casas, gente rural que não entende de tecnologia. A Bitcoin não arde. É tudo virtual, precisa de computadores e informáticos.
A bitcoin deve ser mesmo uma coisa fantástica, porque o governo já gastou tanto dinheiro para estudar o assunto, mandar o Presidente da RAM a Miami, agora à Holanda. A bitcoin é tão incrível que se preparou tudo para criar, sem aparecer em destaque no programa eleitoral do PSD/CDS, sem consultar a população, um Centro de Negócios Bitcoin. Também se devem estar a estudar formas de contornar a legislação portuguesa e os avisos do Banco Central Europeu sobre o risco e as ligações desta moeda à instabilidade e ao risco, à fuga fiscal e à transação de dinheiro com procedência criminosa.
Em 2024, vamos ter na Madeira, com a organização do FREE, Fórum Regional de Educação Económica, o Bitcoin Atlantis, a primeira Conferência Atlântica de Bitcoin. De a 1 a 3 de março, no Estádio dos Barreiros. Voltámos à primeira divisão. Não se entusiasmem os adeptos. Trata-se de outros golos.
E é tão linda a publicidade do vídeo promocional: "No ano 2024, a cidade submergida de Atlantis vai regressar..." A música é de tal forma motivadora que me surgiu uma lágrima no canto do olho. Está tudo em www.freemadeira.com. Vão lá emocionar-se também.
Nós, pequenos cidadãos, não conseguimos compreender a grandiosidade da ideia e do projeto. São coisas que o Fausto também só conseguiu entender quando lhe foram abertas as portas do conhecimento. Teve de dar a alma em troca para ficar a saber mais do que os outros. No entanto, esqueceu-se que era apenas um homem.
No entretanto, as populações e a natureza esperam pela Bitcoin. Está tudo controlado, nós é que não sabemos.