50 anos depois de abril, eis que se ergue uma turba de gente mal resolvida com a democracia e com os direitos conquistados, numa tentativa de travar ameaças que são progresso e implementar supostas salvações que não são mais do que um saudosismo doentio e um retrocesso civilizacional.
E, de repente, uns supostos respeitáveis cavalheiros, lá ressuscitam uma visão retrógrada e infame do suposto papel da mulher na sociedade, fazendo surgir, do fundo do baú mofento de onde saíram, o “sacrossanto” conceito de família tradicional e de doméstica. Ou seja, o modelo pai, mãe e filhos, mesmo que sustentado em abusos, desrespeito e muitas vezes violência; e a mulher remetida à cozinha, a servir esta horda de hunos que pensa poder voltar a ditar o papel das mulheres, das famílias e de tudo o que consideram ser ameaça a um sistema de obscuridade e atraso que lhes é caro.
Com aquele ar beato e fascista, lá inventam que as famílias diferentes, mas perfeitamente legítimas e legitimadas democrática e socialmente, são apenas ajuntamentos familiares; e que a ideologia de género é uma ameaça à Pátria, Deus e Família que professam.
É uma gente assustadora nos seus objetivos e na sua forma de pensar, que surge anacronicamente no exato momento em que deveríamos avançar e não retroceder. Surgem, ao arrepio de tudo, nos 50 anos da nossa Democracia e da nossa Revolução, que não tendo respondido a todos os nossos anseios, ainda assim nos trouxe o inquestionável valor da liberdade e de todas as suas conquistas.
Esta gente precisa ser denunciada por querer impor trevas no dia “inteiro e limpo” de abril, voltando a conspurcar o ambiente desse dia com o que de mais execrável existia no antigo regime, devolvendo ao Estado e à Religião o poder de ditar regras no foro privado, o poder de travar liberdades, o poder de impor um único caminho e de segregar quem não se alinha.
50 anos depois de abril, importa lutar contra estes ressurgimentos sinistros com todas as forças.
Já é suficiente mau assistir à tentativa de retrocesso, transvestida de supostos salvadores da Pátria e da família, para ainda permitir que os seus ditames se concretizem.
Às mulheres, sobretudo às mulheres, cabe a missão de deixar claro que o papel da mulher é aquele que ela quiser. Que recusamos paternalismos e retrocessos, e que a nossa liberdade não é referendável, nem discutível.
Às famílias não tradicionais cabe a missão de deixar claro que o amor é superior a qualquer construção social ou política.