Já foi por demais escalpelizado as razões pelas quais os Madeirenses vão a eleições no próximo dia 26 de maio deste ano. Para já não vale a pena entrar por esse caminho outra vez. Mal ou bem, a verdade é que vamos mesmo a mais um escrutínio, este para a Madeira, e cujo resultado será, no seguimento daquilo que se tem verificado a nível nacional, uma incerteza.
A única certeza que temos é que não haverá maiorias absolutas de um partido só. Aliás, se estivermos bem recordados, as duas últimas maiorias deste tipo em Portugal correram muito mal. Entre 2015 e 2019, o último governo de maioria absoluta do PSD na Madeira, o primeiro de Miguel Albuquerque, correu sob o signo da contestação. A maioria absoluta de António Costa e do PS na República foi tão absurda que nem chegou ao seu termo natural. Em quaisquer destes foram muitos os casos, os ministros e secretários substituídos, os problemas judiciais, as greves e protestos, cuja turbulência teve repercussão no ato eleitoral posterior com a retirada dessas mesmas maiorias.
Os portugueses ganharam o gostinho da negociação. Dos governos conjuntos e das responsabilidades partilhadas. Pelo que hoje é inevitável que da campanha já resulte a análise das potenciais alianças e acordos que possam sair dos diversos quadrantes políticos e pelos possíveis resultados que venham a ser alcançados. Mais do que discussão de políticas, releva-se as medidas que devam ou não ser prioritárias para uma negociação que permita apoios parlamentares ou governos em partilha.
Tudo isto muda o espetro político nacional. A Madeira não é exceção. Por muito que não se queira admitir, dificilmente um programa é agora preparado a pensar numa governação solitária, mas antes nos pontos em comum com outras forças políticas mais próximas, de forma a encontrar pontes que permitam eventuais acordos.
Mas isto também cria no eleitor maior responsabilidade. O voto hoje deixou de ser o ato reflexo de colocar o “x” no sítio do costume sem grande apreciação. É a mentalidade de clube de futebol a deixar de fazer sentido na política. A flutuação do sentido de voto também ganha cada vez mais peso já que as novas gerações de eleitores são cada vez mais apartidárias, menos ideológicas e mais de causas. Tudo isto obriga aos partidos tradicionais a rever os seus métodos, posturas e sobretudo a sua comunicação. E colocar a pessoa no centro.
E, verdade seja dita, o cidadão não é difícil de satisfazer. No final do dia, o que ele quer é um governo que não lhe crie problemas. Que resolva os problemas. Que crie condições para que aquele possa viver a sua vida com o máximo de dignidade. E que faça a gestão da coisa comum de forma competente, imparcial e responsável.
Pelo que, responsabilidade é mesmo a palavra-chave. E o que é ser responsável? É assumir obrigações, cumprir compromissos e agir de acordo com as expectativas e valores pessoais, sociais e éticos. É ser capaz de avaliar os riscos e benefícios envolvidos e agir de acordo com nossos valores e princípios e o bem comum, resistindo a impulsos e tentações que possam levar a comportamentos prejudiciais ou irresponsáveis.
Por outras palavras, não prometer o que sabe que não fará, porque não o quer fazer ou porque não o pode fazer. É não dizer só aquilo que vai de encontro à frustração e insatisfação do povo, procurando ganhar assim a sua preferência, promovendo a incoerência e a irresponsabilidade.
Por tudo isto, é obrigação dos partidos políticos de se (re)organizar, (r)estruturar, (re)habilitar, e assim promover programas, ideias e comportamentos sob o signo da responsabilidade política, social e económica. Mas isto não vai lá apenas com palavras. Passa sobretudo pelos atos.
Neste fim-de-semana o CDS na Madeira fechou um ciclo e abriu um novo. Do ciclo que se fecha, a marca mais indelével que a direção do Rui Barreto deixa é a de responsabilidade máxima. O CDS e os seus intervenientes foram, no exercício dos seus cargos públicos, competentes, assertivos, inovadores e compenetrados com o objetivo comum. O reconhecimento dos seus pares é disso sinal. Deixa ainda a marca de ser o único partido na Madeira que foi oposição e governo e a prova de há mais vida e competência para além do PSD.
Este novo ciclo começa com um desafio enorme. Responder a um ato eleitoral num curtíssimo espaço de tempo. Mas ‘vende’ as mesmas características: competência e responsabilidade. Capitaliza nos seus 50 anos de história de luta, capitaliza da experiência governativa que o partido adquiriu nos últimos anos e aproveita as lições aprendidas e os sucessos alcançados para continuar a defender as suas causas de forma responsável, coerente e assertiva.
Propomo-nos assim a uma escolha simples: caberá agora ao eleitor escolher entre bardos de promessas vazias e retórica inflamada ou confiar o seu futuro próximo ao ‘velho’ confiável.