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Artigo de Opinião

14/04/2023 08:00

A revelação de um alegado pedido da presidência para antecipar o voo de 24 de março de 2022 para o dia 23, de Maputo para Lisboa, de modo a que Marcelo pudesse estar mais dois dias em Moçambique, regressando a tempo dos seus compromissos do dia 24, permite retirar um sem número de conclusões. O primeiro, mais pessoal, é a confirmação que Marcelo adora estar na "África portuguesa", adora os banhos de multidão à moda de Américo Thomaz, e não conseguiu descolar do mecanismo mental da sua juventude. A segunda, é que a promiscuidade de relacionamento entre São Bento e Belém é total. Não só porque Hugo Mendes revelou o óbvio, que o PR é o maior aliado do Governo e do 1º Ministro, mas porque uma situação daquelas não seria possível com qualquer outro chefe de estado, ou outro chefe do conselho de ministros. Isso relembrou-me um dos episódios mais inacreditáveis da III República, comodamente ocultado do país, pois teve a Madeira como vítima. Marcelo não é um autonomista. Nunca foi. Isso não significa que desconheça a sua relevância, pertinência, ou os seus contornos, como acontece com a maioria peninsular. Nem sequer tem o indulto da ignorância, portanto. Não é autonomista porque tem outra visão do país. Adora imiscuir-se, controlar, criar factos e situações políticas. E aqui não tem grande sorte, pelo menos enquanto o partido de que é militante for governo. Por isso, Marcelo gosta de Cafôfo. Porque este e o PS sempre se mostraram permissivos, disponíveis para trocar a vontade dos madeirenses por um prato de lentilhas. Daí que tenha, em plena campanha de 2019, numa visita à Região, e quando não se poderia encontrar institucionalmente com o então ex-presidente da Câmara, que não tinha qualquer cargo que não fosse o divertido e multicitado "candidato do PS à presidência do GR" , encenou um encontro "fortuito" no mercado dos lavradores para promoverem um abraço mútuo, a principal especialidade de ambos. Ou que não tenha convidado o presidente do Governo Regional para o 10 de junho de Londres, no ano passado, onde temos 120 mil madeirenses, alegadamente a pedido de Costa, que não "pôde" representar o governo por uma inesperada e oportuna doença passageira, somando-se ao "azar" de Cravinho ter perdido o avião, só tendo faltado que o contínuo do palácio das necessidades tropeçasse da escada para garantir que ninguém faria sombra ao atual secretário de Estado na nobre função de servir de emplastro de Marcelo junto à nossa diáspora, em terras de sua majestade. Ora, um país em que o chefe de governo, alegadamente claro, pede a um Presidente da República para não convidar um presidente do Governo Regional, apenas para dar brilho a um Secretário de Estado, e o mais alto magistrado da nação aceita, também alegadamente, é um país que não se pode surpreender com chafurda diária que assistimos, tipo casa de horrores, nos telejornais. Digam-me com que outros 1º Ministros ou PR poderiam, alegadamente - não esquecer, acontecer situações como as que citei anteriormente??! Talvez com Sócrates. E não vejo mais ninguém. Um PR que, e é preciso que as pessoas saibam para que não fique de fora da construção da nossa memória comum, sabendo que tinha o PS Madeira de Cafôfo no bolso, "alegadamente" se preparava para "dinamizar" uma solução para o PSD Madeira em 2021, já contando com uma derrota de Pedro Calado nas autárquicas (que só na sua cabeça poderia acontecer), e subsequentes réplicas de terramoto político que provocassem uma queda do GR, para ter "no bolso", o tal bolso de que tanto fala, os dois maiores partidos da nossa Região?

Um PR que se substitui aos eleitores, insinuando que, não obstante os escândalos semanais no Governo da República, que já começou "desgastado e cansado", como inacreditavelmente admitiu e ainda assim deu posse, refere que não dissolve a Assembleia porque, sentencia, "não há alternativa política"? Ou porque "há fundos comunitários para aplicar"? Então nunca teríamos eleições, pois fundos comunitários gozamos desde há 40 anos!

Ou quando justifica com a guerra da Ucrânia e Inflação, como se na dissolução de Sampaio não tivesse existido o 11 de Setembro, a invasão do Iraque, a crise petrolífera ou o país não estivesse "de tanga? Estamos surpreendidos exatamente com o quê?

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