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Artigo de Opinião

29/06/2023 08:00

Até por terem sido os percursores do jargão "não aprendemos nada", repetido ad nauseam, quase desejando nova desgraça. Um Jargão comprovadamente falso, como provam os estudos liderados pelo Prof Betâmio de Almeida, além da reflorestação do coberto vegetal, a colocação de açudes, a canalização, reperfilamento e rebaixamento do caudal das ribeiras, ou o sistema de alerta de riscos naturais. Agora, a realidade empírica negou de vez esse jargão.

Olhando para trás, parece kafkiana toda a celeuma em volta das obras das ribeiras. Havia poucos anos sobre a morte de 50 madeirenses. Por toda a ilha existiam ainda cicatrizes dos efeitos do temporal maldito. Parecia inquestionável que as ribeiras não tinham aguentado a enorme massa de água e sólidos, levando tudo pela frente. Subitamente, levanta-se um enorme bruaá de protesto contra as intervenções, com intentos puramente político-partidários, apoiado por falsos agentes da sociedade-civil, logo constituídos mandatários de campanha, alegando uma suposta destruição patrimonial, chamando as maiores autoridades técnicas e científicas de "Camartelo da Estupidez", e desprezando por completo a segurança futura da população. O que interessava era o voto a curto prazo.

Um colégio de papagaios e idiotas úteis esmerou-se a dar eco a algo sem qualquer fundamento técnico. Quer no campo cultural, estrutural ou hidráulico. Elevaram a pedra emparelhada das muralhas ao nível da necrópole de Gizé. Algo pelo qual, imagina-se, valeria sacrificar algumas vidas humanas. Opinaram que as intervenções não teriam qualquer efeito na segurança. "E a montante? e a montante?" repetiam como um menino que aprendeu uma palavra nova, ignorando o enorme trabalho nas áreas sobranceiras!

Perante tamanha insistência, e validação de alguma comunicação social, o povo desconfiava. Sentimos entrar numa realidade paralela. "Estará toda a gente a ser manipulada por demagogos e populistas? Ou estaremos nós a insistir em algo sem sentido?".

Várias vezes me questionei, reconhecendo as minhas insuficiências técnicas.

Relembro com especial conforto uma reunião no aeroporto, onde questionei a equipa do Prof Jorge da Cruz, projetista da obra, se tudo aquilo não seria excessivo. Se aquelas pessoas que se juntavam em tertúlias e debates públicos de censura não teriam, afinal, alguma razão?

Os especialistas olharam para mim como se tivesse aterrado de Marte! Senti que viam em mim o porta-voz do absurdo, do tal "camartelo da estupidez"! Com condescendência, e algum paternalismo didático, retorquiram com outra questão: "Têm eles algum conhecimento científico, ou sequer experiência, no trato da hidráulica ou das estruturas?". Que não, esclareci eu. São, no geral, gente de outras áreas, nunca se tendo destacado nestes domínios. "Nem o saber dos antigos têm", clarifiquei.

"Se é assim, como querem colocar em risco uma comunidade ainda com feridas da destruição? Como ousam arrastar consigo uma população ansiosa por respostas e incomodada pelo aparato que condicionava o trânsito?" Não tive resposta, obviamente. Depois lá nos explicaram, como se tivéssemos 10 anos, que era fundamental aumentar a secção de vazão das ribeiras, rebaixando-as, reperfilar as suas curvas, conferir rapidez ao caudal.

Se tivéssemos a possibilidade de perguntar ao Brigadeiro Oudinot se preferia as suas muralhas visíveis, ou a poupança de vidas humanas, não tenho dúvida da sua escolha.

Os especialistas internacionais que nos têm visitado, não se acanham a considerar que a nossa abordagem multidisciplinar inspirou a recomendação Europeia "Science for Risk Disaster Management". Lá fora somos um exemplo da ciência em prol da mitigação de riscos. Cá dentro, há julgamentos sumários de especialistas em coisa nenhuma e profissionais do "achismo".

Um dia a ribeira vai voltar a transbordar. Não tenhamos dúvidas. Mas nesse dia apenas poderemos imaginar a quantidade de vidas entretanto poupadas, e de prejuízos evitados. Do camartelo da estupidez, felizmente, não rezará a história!

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