Maletero…
..É a expressão espanhola pouco abonatória para aquilo que também é chamado de "jogo da mala". De que se trata então, no mundo do futebol? É alguém que leva uma mala de dinheiro para entregar a uma equipa que joga contra um concorrente direto seu, como incentivo a que essa equipa ganhe. Apesar de entretanto criminalizada, e punível disciplinarmente, esta prática foi durante anos legal, pois o dinheiro era um incentivo para ..ganhar. Mas não deixava de causar desconforto, de ser algo escondido, pois a linha ténue com a ilegalidade era óbvia. Lembro-me de um grande clube que combinou com os jogadores do Beira-mar um prémio caso estes ganhassem a outro grande clube. Só que a "mala" foi entregue no inicio da época seguinte da véspera de um jogo do clube de Aveiro com esse grande clube "paqador". Claro, é uma caixa de pandora.
"Falar Continental"
De toda a envolvente associada à expressão "mala de dinheiro" , e haveria exemplos mais graves para enunciar, não se terá lembrado Paulo Cafôfo, quando a decidiu utilizar para ilustrar a falta de vontade do seu governo em cumprir os compromissos com a Secretaria Regional da Saúde. A sobranceria com que falou sobre a sua terra Natal, tão pouco tempo depois da sua promoção a governante, fez-me lembrar aqueles estudantes que entravam na universidade de Lisboa em Setembro, e quando regressavam para o seu primeiro Natal já vinham a "falar continental".
Mas talvez ainda pior são os contornos à volta da recente deslocação à Venezuela.
Secretário de Estado das "Comodidades"?
Além de ter levado uma "mala de dinheiro" para distribuir verbas por associações lusas naquelas paragens, o que diz bem de como o conceito da "mala" é farol para estas matérias, o novel governante não se cansou a apontar todo o tipo de dificuldades, carências, inclusive contar o número de sem abrigo, que justificassem a distribuição de tão ambiciosa verba. Uma exploração de misérias para com uma sociedade, em geral , e uma comunidade madeirense, em particular, que procura levantar cabeça, aproveitando a total dolarização da economia e um visível aliviar do projeto chavista. Um discurso em contraciclo, que provocou incómodo aos dirigentes associativos locais, de quem parece necessitar da pobreza e miséria para distribuir migalhas, mesmo que trazidos numa "mala". Ser mais chavista que os chavistas, na terra de Chaves. Mas que dizer da agenda "pública" dessa visita? Cafôfo prometeu, numa entrevista a este jornal , iniciativas "do dia à noite" enquanto estivesse na terra de Bolívar, tendo também lido algures que o ex-presidente da câmara havia realizado "mais de 30 iniciativas". Contudo, a referida "agenda pública", apenas apontava para os 6 dias úteis de presença naquelas paragens, precisamente 6 iniciativas "públicas" , acrescidas de uma conferência de imprensa final. Estarei muito enganado, ou uma visita oficial de um governante não se compadece com iniciativas "não públicas" , a terem existido? Então as visitas pagas pelos contribuintes não tem de ser integralmente conhecidas? Mesmo que, por questões de segurança, o que não terá sido o caso, possa existir uma situação de maior reserva, não tem de ser publicitado à posteriori?
Não posso acreditar que Paulo Cafôfo tenha ido com tanta pompa à Venezuela apenas para fazer 6 visitas. Caso contrario em vez de Secretário da Comunidades passaria a ser conhecido como Secretário das Comodidades.