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Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

27/01/2021 08:14

Auschwitz-Birkenau é um murro no estômago. Na altura, perguntaram-me porque ia a Cracóvia com o objetivo de ir a Auschwitz. "Devem ser gostos".

Respondi: "Não. Não se vai a Auschwitz porque se gosta do que lá aconteceu. Vai-se e deve-se ir a Auschwitz para, de alguma forma, sermos parte de uma história que não pode voltar a acontecer. Fui a Auschwitz em homenagem às vidas perdidas em vão. Fui a Auschwitz para ver com os meus próprios olhos as atrocidades e crueldades das quais a Humanidade foi testemunha. Fui a Auschwitz porque sentia que devia isso a pessoas que não conheci, mas que eram como eu e morreram sem saber porquê. Fui a Auschwitz para tentar compreender o como e o porquê". Fui, vi e ainda hoje continuo sem resposta.

Hoje, dia 27 de Janeiro, assinala-se o Dia Internacional em Memória do Holocausto. Foi neste dia, em 1945, que Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração e extermínio nazi, foi libertado pelo Exército Vermelho. A Alemanha de Hitler ceifou milhões de vidas e feriu tantas outras.

Passados 76 anos, é assustador ver o aumento de apoio eleitoral a partidos populistas e da extrema-direita. É inegável o seu crescimento pelo mundo, e aqui mais perto, por toda a Europa. Reino Unido, Alemanha, Áustria, Países Baixos, Suécia, Hungria, Finlândia, Dinamarca, Grécia, França, Itália, Polónia, Portugal... Ninguém ficou imune a este vírus que infectou também o Parlamento Europeu, nas últimas eleições em 2019, tendo os partidos eurocéticos ganho uma presença maior do que tinham no passado. Mas esta é a democracia a funcionar. É a sua beleza, para o bem ou para o mal, porque o povo é quem mais ordena.

Houve muitos factores que levaram à aceitação mais generalizada de Hitler na Alemanha, desde a depressão económica, que deixou milhões na pobreza sem emprego, até ao ódio que os alemães tinham pelo Tratado de Versalhes que pôs fim à Primeira Guerra Mundial.

Por cá, na Europa, a crise económica de 2008 e as suas consequências como o aumento do desemprego, foram uma prancha de re-lançamento para os partidos populistas e de extrema direita, devido ao descontentamento dos cidadãos em relação à política e a quem os governa. As crises económicas compreendem também outros fenómenos como a globalização, os cortes sociais, entre outros, levando à decepção colectiva. Há outros factores como a corrupção, a escassez de transparência e as promessas de campanha que não se veem comtempladas.

Como bem escreveu Antonio Argandoña, Professor de Ética Económica e Empresarial na Escola de Negócios IESE para a Forbes, "é necessário rever as políticas macroeconómicas, fiscais, industriais e comerciais. O problema não se resolve apenas com o aumento dos salários. É urgente explorar como podemos desenvolver estratégias que não causem danos desnecessários".

Contudo, há alguns raios de esperança a abrir por entre a onda escura de discurso de ódio a que os partidos populistas e de extrema-direita se agarram: Le Pen, na França, vê a sua popularidade comprometida, Jair Bolsonaro, no Brasil, também. Até nos Estados Unidos há uma nova Era que começa com o fim da presidência de Donald Trump.

Que não seja necessário um 'Hitler' in versão light para nos mostrar o quão perigoso o populismo pode acabar por ser.

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