Tendo decorrido no início desta semana as comemorações do quadragésimo oitavo do 25 de Abril, a revolução que devolveu a liberdade à nação portuguesa, muito ainda há para fazer para que a liberdade seja plena no interior da nossa sociedade, porque as conquistas de Abril não têm donos, a revolução não pode nem deve ser partidária; a revolução de Abril é e será sempre património de todos os portugueses!
A este propósito, não posso deixar de analisar o que aconteceu no passado dia 21 de Abril na Assembleia da República. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, discursou por videoconferência no Parlamento português durante 15 minutos, destacou a violência das forças russas contra a população ucraniana, agradeceu o apoio português e pediu ajuda para travar a Rússia de destruir a democracia dos países do leste da Europa; num discurso emotivo, afirmou que "estamos mais a leste e vocês mais a oeste, mas ambos sabemos que os valores que defendemos são iguais. (…) O vosso povo, que vai celebrar dentro de dias o aniversário da Resolução dos Cravos, percebe. Sabem o que estamos a sentir ".
Numa intervenção aplaudida de pé por todos, onde o PCP fez questão de estar ausente desde a primeira hora, não assistiu, mas criticou o discurso de Zelensky, nomeadamente as declarações do líder da Ucrânia pela comparação ao 25 de Abril, considerando-as mesmo "um insulto", reafirmando que os ucranianos lutam porque "querem a liberdade", porque "querem escolher o seu futuro".
Ora, num partido que apregoa liberdade e igualdade, recusar-se a ouvir um líder democraticamente eleito, a atitude e a posição adotada desde a primeira hora a propósito da guerra que ocorre naquela terra por ideologia política cega e unilateral não deixa de ser absolutamente inaceitável. Na arte e no anseio de ser sempre do contra porque sim, depois de ter andado a servir de moleta a um governo socialista que ajudou a derrubar, depois de ser literalmente cilindrado nas últimas eleições legislativas, o partido comunista deu mais um passo na autoflagelação e no caminho da autodestruição, e insulta todos os ideais de abril com as suas posições sobre a guerra na Ucrânia e com os seus comentários sobre o discurso do líder ucraniano.
Numa posição do género "orgulhosamente só", nem o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, escapa às críticas dos valentes camaradas.
Numa intervenção que foi aplaudida de pé por deputados de várias bancadas e antes de serem tocados os hinos da Ucrânia e nacional, a segunda figura do Estado Português afirmou que a luta da Ucrânia pela liberdade é a luta da Europa toda pela liberdade e ainda rematou que "a essa luta pela liberdade o Portugal democrático nunca faltou, não falta e não faltará ".
Ora, o PCP ausente que fez questão de comentar tudo e todos, considerou que o poder na Ucrânia está a agredir o seu próprio povo e reiterou que a Ucrânia representa o contrário da Revolução dos Cravos. Mas a líder parlamentar comunista não se ficou por aqui e em género de comentador futebolístico afirmou que o discurso de Santos Silva, "não é uma intervenção que deve corresponder a um órgão de soberania [desde logo] pelo cinismo".
E perante tudo isto, só posso concluir de forma contundente que nesta situação, a ideologia partidária só atrapalha e deveria ser pura e simplesmente colocada de parte, porque, há valores que falam mais alto e tal como dizia Cecília Meireles, "Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."