O que é esta presidência? Pois bem, cada Estado-Membro assume, em modo rotativo, a Presidência do Conselho da União Europeia durante seis meses. Entre vários deveres, este órgão assegura a coerência e a continuidade do processo de tomada de decisão, garantindo uma boa cooperação entre todos os Estados-Membros e assegurando as relações do Conselho com as instituições europeias, em particular a Comissão e o Parlamento Europeu.
Contudo, esta presidência não é uma qualquer. Além de chegar num momento crítico em que a variante Omicron tem feitos soar os alarmes e, de novo, ameaçando a recuperação ecónomica, a França prepara-se para uma importante eleição presidencial em abril de 2022 - mesmo no meio da presidência do Conselho da UE - que, dependendo do resultado, poderá fragilizar os objectivos já definidos pela mesma.
Aliás, há quem defenda que por esta razão a presidência francesa deveria ter sido adiada, disse Manon Aubry, co-presidente do Grupo da Esquerda no Parlamento Europeu, em entrevista à FRANÇA 24 - na sua opinião, a eleição acabará por "enfraquecer o papel da França no seio da União Europeia".
Mas como é óbvio, à moda da boa arrogância francesa, essa hipótese nem foi posta na mesa. Mas o que foi posto na mesa foi a determinação da França de fazer de 2022 o ano da língua francesa. Como? Durante a presidência, os diplomatas franceses disseram que todas as reuniões do Conselho da UE serão conduzidas em francês. As notas, actas, reuniões preparatórias... Tudo em francês.
Não é uma prática nova esta de que o país a deter a presidência do Conselho conduza o trabalho na sua língua materna. Mas tem vindo a cair em desuso, abrindo-se espaço para mais reuniões em inglês, pois permite poupar tempo e evitando traduções desnecessárias, não fosse o inglês uma língua amplamente falada nos corredores de Bruxelas. O jornal POLITICO, aquando esta insistência da França em só usar francês veio a público, deu o exemplo de Nuno Brito, embaixador português, que falava sobretudo em inglês nas reuniões do Conselho quando Portugal detinha a presidência no início deste ano.
Para chegar ao cúmulo, até cartas enviadas pela Comissão Europeia terão de chegar em francês. Caso contrário, arriscam-se a não ser respondidas... C'est la France, right? Com certeza permitirá que os dossiers e processos de decisão avancem suavemente e sem atrasos (isto é sarcasmo, se não for claro).
No que toca aos objectivos, a França tem uma agenda ambiciosa para os primeiros seis meses do novo ano - demais, até. A reforma do espaço Schengen sem fronteiras, a prossecução de mais defesa europeia e um novo modelo europeu estão entre as prioridades delineadas. O lema é "Recuperação, Força e Sentimento de Pertença".
Os próximos meses serão bastante interessantes em Bruxelas, uma vez que a França é uma das principais potências europeias e há muita expectativa em volta das eleições presidenciais de abril e em como estas podem abanar o ‘barco europeu’.
Até lá, fique em segurança e deixo-lhe votos de um bom ano novo. Oops, bonne année!