No Salmo 41 (42) o autor tem “Sede de Deus” e exclama: “De dia mande-me Deus a sua graça, de noite canto e rezo ao Deus da minha vida... onde está Deus? No Novo Testamento, São João (7,46) escreve sobre Jesus: “Responderam os guardas: Nunca ninguém falou como este homem. Mas os fariseus replicaram-lhes: “Também vós estais seduzidos? Porventura algum chefe ou fariseu acreditou n’Ele”?
Esses pobres guardas souberam descobrir a verdade sobre Jesus, talvez como os discípulos que o acompanhavam nas suas viagens através de toda a Galileia, mas sem dúvida, melhor que os soberbos sábios das escolas dos rabinos de Jerusalém.
Sucede também, por vezes, que os verdadeiros crentes são os simples cristãos que estão presentes nas reuniões cristãs, e, alguns que não as frequentam porque ninguém os ensinou, como muitos dos migrantes ou refugiados vindos da Ásia ou das profundezas da África, mas que estão disponíveis para descobrir o que vêm sem compreender, em troca de pequenos serviços nos quais são muito dedicados.
Após 42 anos de episcopado, participei todos os anos, no Retiro Espiritual realizado no Santuário de Fátima. A maior parte dos bispos que acompanhei nestes santos exercícios, já se encontram a ver a Face de Deus, como pedia o autor do Salmo 41. Este ano, querendo erguer-me de uma cadeira senti que a mão direita estava dolorida e recorri a uma enfermeira do santuário, depois a uma religiosa médica que que falaram dos cuidados a tomar. A experiência foi ocasião para encontrar o que de mais belo se encontra na alma humana, quando vim para tomar o avião. Pela primeira vez precisei de muita ajuda de outros, de padres, dum seminarista madeirense em Lisboa, mas o principal foi o encontro com um jovem negro da Guiné que me levou numa cadeirinha de rodas a subir e descer por elevadores, e no fim a pedir-me para benzer um crucifixo que trazia escondido no pescoço.
Na sala de embarco mudei para outro jovem, também de pele escura, com experiência naquele serviço, que me transportou a um elevador que descia para um novo autocarro, conduzido por uma senhora portuguesa, alegre, a sorrir e indicar-me como iria proceder até chegar ao avião, era condutora sapiente, julgo que mulher crente. Ao mudar para um outro auto com dispositivo para subir até ao avião, dois senhores eram de uma afabilidade extraordinária, ajudando e dizendo com devia baixar a cabeça para entrar por uma porta pequena do avião. Uma hospedeira já se encontrava dentro com as mãos no alto da porta para não bater nela com a cabeça, levou-me tomando o meu braço até ao meu lugar dentro do avião.
Ao meu lado chega uma senhora altiva e apressada que me queria oferecer o lugar da janela, disse-lhe que preferia sempre a corredora, agradeci em inglês e ela respondeu-me em português. Sentou-se e começou a ler um livro, tanto mais que eu já tinha aberto uma revista “La Civiltà Cattolica” dos jesuítas italianos.
Quando me levantei para ir ao banho, uma hospedeira toma o meu braço e levou-me até lá com rapidez e sorrisos, dizendo-lhe eu que os passageiros poderiam pensar num alegre noivado.
Chegando junto da senhora do lado, preguntei-lhe se já conhecia a Madeira. Ela responde-me com delicadeza: “Eu não sou crente”, respondi-lhe: “Eu respeito sempre todas as pessoas, mesmo não crentes, tenho amigos muçulmanos, e deles tenho recebido hospitalidade, herança que vem do nosso pai Abraão. Ela diz-me que me vem convidada por um seu companheiro que vai dirigir um concerto musical no Funchal.
Noto que posso falar de música e digo-lhe que em Roma onde estive vinte anos assisti a muitos concertos e óperas. Para mim o músico preferido é o grande Sebastian BACH, assim como os três B de Viena, Bach, Beethoven e Brahms, sem esquecer Mozart. Pensava comigo, estamos no caminho certo da Arte. Digo-lhe que 70% dos bens artísticos da Europa se encontram na Itália, país que conheço desde o Piemonte até à Sicília. Ela também conhece e louva Roma, pela sua beleza artística, Florença a inigualável, eu ajunto, Milão, Veneza, Ravena e Pádua onde morreu Santo António de Lisboa.
Pregunto-lhe se conhece a arte flamenga e o Museu onde ela se encontra na Madeira do qual tratei durante tantos anos, disse-me que não o visitou ainda, mas o conhecerá numa outra ocasião. Escreveu o grande Dostoievski que a beleza salvará o mundo.
Os homens e mulheres ficam perturbados e eletrizados com a beleza e os grandes valores humanos, mas correm também o risco de ficarem à superfície e perderem o humanismo autêntico.
Jesus Cristo veio para ajudar-nos a encontrar toda a integridade e liberdade concretas, para amar como Deus ama, Ele que é o verdadeiro Amor. A realidade humana é muito outra, fala-se de paz num tempo de horríveis guerras, de liberdade quando acontecem tantos crimes, de civilização quando existem tantos miseráveis e escravizados. Jesus concede-nos a sua ajuda, coloca-se à disposição de todos os que querem dialogar e transformar-se n’Ele, ama e compromete-se, amar a Deus é amar a sua imagem que é nosso próximo.