Não é verdade que assim seja, e comprova-se facilmente mesmo no lodaçal - é pesada a terminologia, eu sei, mas é-me inevitável usá-la no presente contexto político regional, e não só, nacional e internacional também- quem não assistiu a um degradante debate entre os dois candidatos impensáveis da dita “maior potência internacional” há uns dias? E a demarcação da extrema-direita em França por estes dias, muito por responsabilidade de um Macron elitista, arrogante (de repente lembrei-me de outros protagonistas políticos arrogantes ...) que do alto da sua soberba considera falhados aqueles que “aos 50 anos não têm um relógio rolex”. Tal pedantismo é inenarrável, mas tivesse isto alguma relevância na subsistência coletiva, os únicos responsáveis por tal “falhanço” seriam as políticas desses agentes políticos que, como Macron se prepara, como seria expectável, para fazer alianças contranatura para derrubar o monstro que ele mesmo criou: a extrema-direita.
Não é muito distinto por cá, a bipolaridade parece há muito ter-se infiltrado na política, desde as campanhas eleitorais aos (des)governos criados tão atabalhoadamente que se descredibilizam a si mesmos, com expressões, declarações, ameaças, mentiras despudoradas e adjetivações que fariam corar os mais irresponsáveis e descabidos que se passeiam nos corredores subterrâneos dos cartéis do poder. E culpa-se sempre, por tal, a esquerda – a que é identitária, sobretudo – ou o “inimigo imaginário” tão ao gosto da puerilidade democrática que por cá ainda subsiste mesmo com 50 anos. Mas não se culpa o capitalismo, o neoliberalismo – os tais “ismos” (mas há outros) que corroem a democracia e que insatisfazem milhares de cidadãos para satisfazer apenas uma minoria (sim, “os tais milhares de pobres necessários para fazer um rico”). Não se culpa uma cúpula de poder emaranhada em redes de interesses comuns que incluem não só protagonistas políticos, como agentes económicos e judiciários e até o denominado quarto poder do Media que apenas sobrevive à conta dos anteriores e é por eles condicionado e manipulado. Nem tão pouco se enaltece e confia naqueles (políticos) que não são arguidos de alegados crimes nem sequer suspeitos de alguma ilegalidade tal é a engrenagem montada há décadas, e que dela faz depender muita gente – não é por confiança e convicção que se elege, é pelo medo cultivado pela subsidiodependência quer de grandes grupos económicos quer de outros poderes instalados, quer do séquito familiar e partidário, todos condicionados na sua consciência e ... vontade.
Aliás a cultura do medo parece enxamear lugares outrora com gente da confiança da cúpula enraizada do poder - verdade se diga, antigos “yes sir” - que de repente são catalogados como competência mínima. Ou nula.
Não é verdade que os políticos sejam todos iguais, mas quem decidiu a organização política vigente, sim, foi “o povo” que sob anonimato “crama” nas redes sociais e em surdina nos cafés, sem coragem para engrenar no combate que desmascara as diferenças entre uns e outros, ou então que se abstém, mais uma vez anestesiando a desigualdade entre uns e outros e, remetendo ao “discursos aos peixes”, elegem os tubarões que ficam assim legitimados para devorar o peixe miúdo com a mesma política de empobrecimento de sempre.
Paralelamente a isto: encenam-se negociatas (e não negociações), atira-se areia aos olhos de quem confiou em alguns partidos para agora virem com a tal bipolaridade política: um não passa facilmente a um sim (a abstenção ou é cobardia ou é viabilização do sim, para interesse próprio), se o fruto desses acordos for farto para os intervenientes, e respectivos amigos e familiares. Ou seja, colocam, estes partidos da “encenação negocial”, em causa a soberania popular de quem os elegeu. E maculam vergonhosamente a Democracia!
Internacionalmente alegam-se os “direitos humanos” e até o nome de Deus para perpetuar guerras de interesses bélicos e financeiros; por cá alega-se a “estabilidade e responsabilidade” para legitimar quem se vende na política “por um prato de lentilhas”. Mesmo que tal desrespeite o Povo, o mesmo que lhes confiou o voto.