A arquitetura do Moderno não é ainda considerada pela sociedade como património, tal como acontece com outros estilos e outros movimento arquitetónicos como é o caso dos edifícios de Art Déco, que embora da mesma época são mais facilmente entendidos como património do que as obras de arquitetura moderna. O património moderno, contrariamente à Art Déco, sugere como a própria palavra "moderno" indica, algo novo, de atual, contrariando a noção de herança.
A grande dificuldade não é questionar a proteção dos edifícios que nos deixou o movimento moderno, mas sim decidir quais. O programa de um edifício, tal como o seu contexto (físico, social e histórico), é decisivo para a forma como ele é encarado pela sociedade. É por isso que os edifícios públicos modernos são vistos como sendo ‘mais património’ do que um edifício habitacional.
É natural que muitos desses edifícios, públicos e privados, necessitem de uma atualização na resposta às novas necessidades e aos novos níveis de conforto. Esta transformação deve ser encarada com naturalidade, mas não pode constituir um desvirtuamento ou aniquilação das obras originais.
Conforme defendia Leon Battista Alberti a arquitetura sempre foi, do ponto de vista histórico, uma prática gerida entre uma atitude de restauratio e innovatio. Restaurar as formas arquitetónicas no tempo é algo possível tecnicamente. O que não é possível é trazer de volta as vivências que deram origem aquelas formas arquitetónicas. As cidades são um palimpsesto das várias contemporaneidades que as compõem. Devemos por isso preservar essa diversidade arquitetónica e cultural. É com o equilíbrio entre a restauração e a inovação que devemos trabalhar, preservando os diversos níveis da cidade, mas atualizando-os às novas vivências.
Os edifícios devem para isso estar devidamente documentados e acessíveis a todos, nomeadamente a quem tem o dever e o direito de tomar decisões. Por outro lado, a investigação de soluções para alguns dos problemas relacionados com a degradação dos edifícios e a adaptação programática é também crucial para um desenvolvimento sustentado.
Cabe essencialmente aos arquitetos, mas sobretudo à sociedade civil, sempre que uma obra relevante esteja em risco, tentar informar e consciencializar tanto os responsáveis como os interessados, não apenas alertando, mas, desde logo, propondo soluções viáveis de reativação de um edifício que tem a mais valia de ser património.
Na madeira temos ainda que valorizar e dar a conhecer as mais de 220 obras de arquitetura moderna presentes na região prestando também uma homenagem aos seus autores que contribuíram avidamente para o desenho da cidade que herdamos.