Nunca ninguém te disse que ias sentir uma culpa do tamanho do mundo em relação a praticamente todas as decisões que tu tomas após ser mãe.
Se vais trabalhar, sentes-te culpada porque passas pouco tempo com os teus filhos. Se estás em casa com os teus filhos sentes-te culpada porque não estás a ser produtiva e porque não estás a contribuir financeiramente para a tua família.
Se colocas os teus filhos na escola, sentes culpa porque eles ficam o dia inteiro com estranhos e se estás com eles o dia inteiro, sentes culpa porque às vezes ficas muito cansada e não adoras todos os bocadinhos do que significa ser mãe.
Sentes culpa se deixas os teus filhos dormirem na tua cama e culpa se os colocas a dormirem sozinhos no seu quarto porque ficam longe de ti e podem ficar com medo. Sentes culpa se não consegues amamentar os teus filhos ou se amamentas os teus filhos durante demasiado tempo. Sentes culpa por já não conseguires dar muita atenção às tuas amigas ou ao teu marido. E sentes cansaço, muito cansaço. E saudades de ter a vida que tinhas antes de seres mãe. Saudades do sono. Da liberdade. Saudades de não ter horários. De não teres que fazer uma check-list gigante do que colocar na mala quando sais de casa com o teu bebé...!
Porque é que nunca ninguém nos avisou deste lado menos cor-de rosa da maternidade?! Porque queriam nos poupar de uma ansiedade antecipatória desnecessária? Ou será que nós é que ativámos o mecanismo de defesa da negação inconscientemente e não conseguimos ouvir, não fomos capazes de integrar esta informação porque estávamos tão entusiasmadas por passar para esta fase, de ser mãe? Talvez as duas respostas estejam corretas! E sabes que mais? Ainda bem que nós não ouvimos, ainda bem que nós não fomos capazes de entender algo que ainda não tinha sido vivido. Sim, agora estou a focar propositadamente no lado menos bom da maternidade talvez porque eu sinta necessidade de falar sobre isto, porque também é uma realidade para muitas mulheres e se ouvirmos falar mais vezes sobre as dificuldades e os processos menos bonitos que as mães passam, talvez possamos perceber que também é normal sentir cansaço, medo, frustração, peso. Ser mãe irá trazer o melhor lado de ti ao de cima e também irá trazer o pior, o mais feio, aquele lado que tu queres esconder, mas que tens que encarar, para cresceres, para te desenvolveres. E se for comum ouvir mais vezes isto, talvez possamos sentir menos culpa porque somos apenas humanas. Estamos a aprender a ser mães. Sem qualquer preparação ou formação para o efeito, estamos a desempenhar a função com mais impacto para a humanidade. E se estás a ficar assustada pela perspectiva de vires a ser mãe, quero te dizer também que claro que vale a pena! Irás amar os teus filhos loucamente e provavelmente a maternidade será a melhor coisa que irá acontecer na tua vida. Sentirás um amor incomensurável que não vai caber no teu peito.
São sentimentos muito ambivalentes, sim. E assim é a vida. Feita de dicotomias. De primaveras e de invernos, de noite e de dia, de alegria e de tristeza. Uns não existem sem os outros. Por isso é importante que saibas que a maternidade não é só cor-de-rosa e também não é só negra. Tem muitas cores. Irás precisar de rodear-te de pessoas que te ajudem no teu papel de mãe. Pode ser um caminho muito solitário, mas não tem que ser. Não deve ser. Nós mães, precisamos de outras mães. Da sua validação, do seu suporte. Somos todas diferentes e estamos todas certas. Cada uma irá maternar do seu jeito, porque cada mãe é única, tal como os seus filhos.