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Artigo de Opinião

Psiquiatra

20/08/2024 08:00

Uma silhueta invejável, com um verde abundante, quem é que não se apaixona por ti?

Esse teu verde, luxuoso, com vegetação das baixas e altas altitudes, espantas qualquer um. Só te faltam as planícies alentejanas. Uma pérola no atlântico, de praias de calhau, com uma pequena ilha dourada como acessório, qual colar elegante de ouro num pescoço longo e alto como o teu.

Ao longo dos séculos mantiveste essa floresta virgem. Laurissilva lhe chamam. É uma riqueza que ninguém saberá o seu valor até desaparecer.

Neste mundo de mudanças, de opostos e incoerências, chamas a atenção dos teus súbditos, para que cuidem de ti, da natureza verde e das águas que te banham, mas infelizmente a maior parte, nem reciclagem faz direito. Aqui continuamos a destruir e a poluir as águas e as terras que tanto elogiamos por esse mundo fora.

Eu, não conto a ninguém as tuas belezas, antes que apareçam piratas para te saquear. Essa cultura do turismo, que invariavelmente te vêm saquear por uns dias ou anos, as tuas terras belas e férteis e os teus mares. Uma terra onde tudo floresce, vinga e cresce, como pode dar-se tão pouco ao respeito?

Tu não, tu até chamas os ventos para os aviões não aterrarem, chamas os mares para os barcos não atracarem. São os humanos, defeituosos e em evolução, que saqueiam a tua terra e por vezes até a queimam. Andam à luta uns com os outros, para ver como se mantém a estrutura do poder e do dinheiro, mas nem se lembram de quem é a terra que pisam, nem com quem a partilham. A sociedade atual existe por cima de tantos ossos pisados e destruídos, por tantas almas destruídas, que mais valia criar-se uma capela de ossos para homenagear os subjugados. Os tapetes vermelhos que se estendem para as pessoas importantes, estão cheios do sangue das almas destruídas.

A cultura do álcool e do açúcar vieram para trazer algum dinheiro, mas mantiveram-se para subjugar os humanos pouco importantes. É assustador como a vida humana tem valores diferentes, conforme se situa na hierarquia social. Não há mérito ou qualidades que sejam medidas, apenas famílias e clubes. Dói ver o que os ignorantes te fizeram. Como destruíram a tua orla costeira. Hotéis e outras estruturas bloquearam o livre acesso, porque os que vêm de fora são mais importantes. Na verdade, até talvez sejam mais importantes que os mais importantes humanos residentes. Sem os que vêm de fora, quem é o teu povo? Um povo adormecido, que aceita suspeitas e evidências de corrupção, favorecimentos e cunhas. Penso que não houve uma pessoa que conhecesse que acreditasse honestamente na integridade dos concursos regionais. Desde os primeiros dias que pisei a tua terra, disseram-me que só os amigos é que conseguem cargos e posições.

Eu não sou da terra, mas amo mais a terra e os verdadeiros habitantes dela, do que grande parte dos que em ti habitam, pelo menos os que governam. Por isso, as injustiças e a destruição que te provocam me dói tanto ao ponto de te querer por vezes esquecer e esquecer o tanto que me deste e dás. Agradeço profundamente às pessoas que regularmente confiam nas minhas capacidades para as ajudar e me deixam abrir os pulmões para partilhar a minha verdade.

Acima de tudo, obrigado Madeira. Desejo e anseio que os fogos acalmem e que os nativos acordem, para recuperarmos a natureza e diminuírem as injustiças. Que cuidemos de ti, com o respeito que mereces. Que seja possível caminharmos para criar a pérola humana com o mesmo brilho da pérola da natureza que sempre foste.

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