Pessoalmente, tento seguir o Princípio da Não Agressão, que estipula que qualquer iniciação de força, ameaça ou fraude contra um indivíduo ou a sua propriedade, é ilegítima, o que me coíbe de aplicar uma bofetada a quem propaga asneiras por aí, mas não me coíbe de distribuir tabefes a quem iniciar qualquer daquelas modalidades de agressão contra mim ou os meus.
O uso de violência, mais ou menos suave, justificado pelos fins (fazer valer causas que quem pratica essa violência considera virtuosas) parece ter entrado na moda por estes dias. Desde ovos com tinta na camisa de um governante, até um martelo (acidentalmente posto na mochila, claro) usado contra propriedade privada, o que interessa não é a consequência imediata do acto (violência), mas a inequívoca fé na bondade da causa. E quando os condutores, que têm de trabalhar para dar de comer às famílias, usam de violência para tirar os manifestantes do caminho, não estarão justificados também pelo seu objectivo final? Se os fins justificam os meios, justificam-nos para todos: a lógica não muda conforme dá jeito. E esta é uma das minhas preocupações: quando todos se sentem justificados para fazer uso da violência, há violência generalizada. Os jovens activistas que vão para a rua cumprir os planos violentos dos activistas menos jovens (e bastante bem conectados na política, nas redacções e nos ecrãs opinativos), de cada vez que fazem as suas actividades em prol da fé idealista, arriscam-se a levar troco. Servirão, eventualmente e conforme planeado, de mártires para os objectivos mais ou menos virtuosos (conforme o ponto de vista) dos seus mandantes.
O credo da justificação da violência pelo paraíso que se pretende atingir, ou inferno que se pretende evitar, já deu frutos bem azedos na História recente. Em Portugal, por exemplo, ainda se justificam os homicídios das FP25 com a intenção de acelerar a vinda do Socialismo para salvar o povo português, apesar da vontade do povo português. A Solução Final era justificada com o fim em vista. O Grande Salto em Frente ainda hoje é justificado com o fim pretendido, recusando ver os resultados dos meios usados.
Quando alguém prefere a máxima de que são os fins que justificam os meios, eu fico a saber que, em relação a mim, também valerá tudo, desde que o fim, o objectivo dele, seja virtuoso. E quem é que decide essa virtude? Pois... É que quem acredita que a bondade das suas ideias é tal que estas devem ser forçadas, não será alguém que acredita na liberdade dos outros. Acreditará, sabe-se lá porquê, que tem autoridade sobre o outro e que este não tem remédio senão aceitar.
Eu não dou essa autoridade a ninguém — e não estou na minoria.