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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

19/08/2024 07:35

Poder-se-iam resumir as conclusões do recente Inquérito “Geração Z e Millennial de 2024”, um estudo anual da Deloitte (13.ª edição), que conta com as respostas de 22.800 pessoas, em 44 países (incluindo Portugal -onde 400 jovens responderam ao questionário online), da seguinte forma: os jovens vivem de salário em salário, sendo que os jovens portugueses são dos que mais se preocupam com o custo de vida.

Concretizando pode extrair-se, do estudo, que seis em cada dez jovens vivem de salário em salário e três em cada dez não se sentem “financeiramente seguros”. O custo de vida é, mesmo, de longe, a principal preocupação.

Não nos surpreende! Basta aliás, andar atento e ouvir as preocupações dos jovens.

Ainda, e depois do custo de vida, as preocupações organizam-se da seguinte forma para a geração Z portuguesa: saúde mental da geração (24%), instabilidade política e conflitos globais (22%), desemprego (22%) e crise climática (19%).

Hoje, 6 em cada 10 jovens têm vínculos de trabalho precários. Portugal é o 7º país da UE com maior taxa de desemprego jovem, afetando 1 em cada 5 jovens no mercado de trabalho.

Portugal é, também, o 4.º país da UE, a seguir à Itália, Croácia e Espanha, em que mais jovens vivem com os pais. Percentagem bem acima da média europeia. No contraponto, na Suécia e na Dinamarca, os jovens que vivem com os pais são menos de metade do total de jovens. Em concreto, e de acordo com dados de 2022 do Eurostat, entre nós, a idade média de saída de casa dos pais era aos 30 anos, efetivamente mais 3 anos do que a média europeia.

Verifica-se, portanto, que as matérias de natureza laboral são assim centrais, por serem aquelas que asseguram a estabilidade, o equilíbrio, e, no limite, a “felicidade e a condição humana” (H. Arendt).

O Inquérito reporta, ainda, que os jovens da geração Z e millennials continuam a “valorizar a flexibilidade”, tanto de horários como de local de trabalho. Aspeto, relevante, que podemos alinhar ao pensamento de que após o Covid-19 criou-se a expectativa de uma maior flexibilidade para o trabalho híbrido. Aliás, a bem dizer, caso o trabalho se tivesse tornado mais remoto do que presencial (como muitos vaticinaram), permitiria que os trabalhadores se afastassem dos grandes centros, onde o custo da habitação é mais caro, realidade que vemos mais “assusta” os jovens.

Em paralelo, não devendo ser desmerecido, avultam também aspetos que são assinalados como prejuízos para a saúde mental dos trabalhadores jovens. Questões como “excesso de carga horária e falta de reconhecimento” contribuem para que 40% da geração Z e 35% dos millennials reportem sentirem--se “stressados a maior parte do tempo”.

Se os propósitos de quem nos governa é realmente atender aos jovens, urge criar condições, de facto, para que estes melhorem os seus salários em Portugal.

O Estado, e os governantes, em Portugal, andam a fazer menos bem o que devem fazer. Andam demasiado ocupados em fazer o que porventura não devem. Com isto, sobrecarrega-se a administração de funções e criam-se inúmeras expetativas, que acabam por tolher, e tornar esta menos ágil e incapaz de responder ao fundamental.

Urge, sem os habituais adiamentos, apostar numa eficaz política fiscal e parafiscal, que deixe, de vez, de penalizar tanto o Trabalho. Tudo isto aliado a efetivas políticas públicas de habitação, arrendamento e crédito, sobretudo direcionadas aos jovens.

O Estado em Portugal tem, de vez, de ter uma visão estratégica de si próprio e dos principais domínios da administração, percebendo que é para o cidadão que deve existir.

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