O consumo a que assistimos neste momento, é um perigo, um risco. São vários os fatores que o estimulam. Preocupam-me os jovens adolescentes. O facto de ser estimulante e desafiante consumir substâncias proibidas. O efeito de pertença a um grupo. À sua tribo. A sensibilização e prevenção é feita. Sobretudo nas nossas escolas. Desde tenra idade. E bem. Vivemos, felizmente, numa Região que trabalha com rigor esta questão. E eu, enquanto cidadã, mãe de três filhos, reconheço o trabalho realizado e agradeço.
Escrevo a pensar naquelas pessoas que consomem e que ainda têm em mente a sua abstinência; escrevo também para aquelas pessoas para as quais já não há essa hipótese. Escrevi, propositadamente, duas vezes seguidas a mesma palavra: pessoas. É isso mesmo. Ainda que toxicodependentes, consumidores, drogados. Pessoas. É por nós, e por eles, que julgo ser hora de voltarmos a falar sobre o consumo assistido, as ‘salas de chuto’. Não com a intenção de fazer promoção ao consumo, como já me atiraram à cara, mas para controlá-lo. Tirá-lo, em primeiro lugar, das ruas, becos e vãos de escadas, espaços recônditos da nossa cidade. Para reduzir riscos. Quer em termos de saúde pública, na promoção da saúde e higiene das pessoas que consomem, quer em segurança. A segurança que todos nós queremos. Nas nossas casas e nas nossas ruas. Nos espaços públicos. Nos jardins e praças da nossa cidade.
Há todo um ritual na vida marginal de uma pessoa toxicodependente. A sua luta diária prende-se apenas ao ter que arranjar dinheiro para a seringa e para a droga. Custe o que custar, a quem custar. E é esse rito à volta do consumo, injetado ou fumado, que podemos ‘minar’. Com estes espaços assistidos, com a criação destas ‘salas de chuto’. Através da criação de unidades amovíveis ou móveis, que mais do que distribuir seringas, sejam locais com outras valências, como por exemplo, cuidados médicos e de enfermagem (com rastreios ao VIH e à tuberculose), apoio psicológico, com técnicos de apoio psicossocial, com educadores e assistentes sociais. Que estes espaços possam ser esperança. Que esta ‘sala de chuto’ que hoje convoquei para este espaço de opinião, seja uma porta de entrada para uma outra experiência de vida, para uma nova oportunidade, de acompanhamento e orientação, para uma saída das ruas. Para uma mudança de comportamentos. Pela necessidade de se repensar o combate ao flagelo da droga. A rua não pode ser a alternativa.