Antes que o caro leitor comece a se contorcer na sua cadeira, mude de página ou comece a pensar que o presente artigo é para fazer propaganda político-partidária, já lhe digo que não; o meu objetivo é apenas um convite à reflexão e a pensar realmente no futuro, de uma forma particular, no futuro de Santana.
Nos resultados dos últimos censos realizados a toda a população no presente ano, Santana tem sido mencionada, mas não por bons motivos; aliás, o primeiro número que saltou à vista de todos foi a perda de população; Santana foi o concelho que mais perdeu população; somos agora pouco mais de 6500 habitantes, cerca de 2689 agregados familiares, sendo que 65% tem mais de 65 anos, fazendo com que também sejamos o concelho mais envelhecido em toda a região, onde há 267 idosos por cada 100 jovens.
É que cada vez que leio a expressão "inverno demográfico", penso logo que Santana qualquer dia se torna num case study, e não por bons motivos. Um concelho que regista 27 nascimentos num ano, deve fazer todos os decisores pensarem a sério naquilo que andam a fazer e a decidir! Alguns, tal como eu, hão-de dizer "eu já contribuí para a natalidade", ou então a eterna justificação à boa maneira portuguesa "a vida está cara", mas caros leitores, a verdade é que somos cada vez menos e temos todos que pensar neste assunto a sério, sob pena do nosso futuro coletivo ficar seriamente comprometido do ponto da sustentabilidade económica e sobretudo da sustentabilidade social. Daqui por 10 anos, as consequências deste saldo natural negativo serão significativas e até graves, senão vejamos: uma sociedade com mais idosos implica mais cuidadores, mais despesas, maior esforço de quem trabalha para cuidar de quem já trabalhou, seja em matéria de assistência em saúde, seja em matéria social. Passamos de uma geração de muitos filhos, para poucos ou nenhuns, e a este ritmo, vamos ter que repensar a sério no nosso modo de vida e no nosso modo de funcionamento enquanto povo, até porque a juventude não dura para sempre, ou como dizem as minhas vizinhas "para novo ninguém vai!"
Ora, por outro lado, é também importante que se faça uma reflexão séria para os motivos deste decréscimo da natalidade, que tem decorrido debaixo do nosso nariz. Concordo plenamente que colocar um filho no mundo é uma grande responsabilidade, e que nos tempos que correm é preciso pensar muito antes de tomar esta decisão. As mulheres são mães cada vez mais tarde, porque o seu papel na família mudou e bem, os homens cada vez mais colaboram e bem, e há toda uma quantidade de exigências em torno do nascimento de uma criança que nos devem fazer pensar se já não estaremos a exagerar enquanto sociedade (mas isso já dá outro artigo).
O ponto central desta minha reflexão de hoje é pensar no futuro, e as crianças são o futuro. Mas para que haja futuro, é preciso cuidar do presente, e em Santana, estamos longe de estar a fazer isso. Têm sido tomadas decisões que não cuidam das famílias, que não contribuem para o bem estar global das pessoas. Atribuir subsídios de natalidade por si só não resolve a situação demográfica do concelho, seja em Santana, seja em outra parte do Mundo; em matéria de mitigação do despovoamento, são necessárias medidas transversais, não de curto alcance, com um horizonte superior ao do umbigo eleitoral de alguns, para que o concelho de Santana volte a ser atrativo para a fixação de pessoas, famílias e empresas. O que é preciso é gente de coragem e gente trabalhadora para pensar e ser capaz de concretizar ideias fora da caixa, sob pena de não sermos capazes de cuidar do nosso futuro em Santana.