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Artigo de Opinião

28/02/2023 08:00

O fruto do trabalho do português comum é para ser cobrado em sede fiscal, não é cá para ser investido pelos cidadãos assim, à vontade. Afinal, há que alimentar a máquina burocrática, apaziguar o votante dependente do erário público e manter na linha aquela parte do tecido empresarial que exibe a sua superior capacidade de gestão pela mão estendida em genuflexão. Para quem ainda insiste em fazer a vida sem pedir autorização ao partido — perdão — ao Estado, a mensagem tem de ser clara: nem tentem.

Com vista a passar esta mensagem de pacificação social, o XXIII Governo da República resolveu bombardear a dita com medidas que parecem ser muito bem intencionadas, que vão distribuir habitação a rodos, ao preço do freguês e outros benefícios imensos. Pelo caminho, cajado bem empunhado, os nossos autoproclamados benfeitores abatem outro coelho; o pequeno burguês, esse pulha que poupa em vez de gastar, que investe por si em vez de pedir, que se atreve a possuir uma segunda casa, tem de ser esfolado. Quem, aspirando a respirar melhor ao fim do mês, investiu poupanças, suor e anos de vida no alojamento local, tem de ser posto no lugar. Não podemos ter sucesso em Portugal, por mais residual seja este, sem o aval do partido — perdão — do Estado. Na gulosa vontade de matar o burguês, este governo recusa culpar, pelos preços na habitação, as políticas que, como a História recente evidencia, têm causado uma grande queda no investimento imobiliário em Portugal, causando uma diminuição abrupta de oferta. Prefere apontar o dedo ao sacripanta que, para equilibrar as contas, aluga o espaço, ou apartamento extra ao demoníaco turista. Este só pode ir para o hotel; longe do bairro onde todos têm o direito de viver, mas que estava a cair aos bocados antes de lá haver oferta para o tal turista.

O Estado português, esse grande gestor do parque imobiliário público, com edifícios inteiros prontamente reabilitados e postos à disposição dos arrendamentos acessíveis, que não deixa que fique devoluta, por mais do que algumas décadas, uma única habitação à sua guarda e que apresenta uma eficácia de cobrança das rendas digna de registo, propõe agora substituir-se ao proprietário privado nestas funções, mesmo que não seja vontade do vil proprietário arrendar. Com este histórico, não há nada que possa correr mal.

Tempos houve em que os portugueses se esforçavam, presos que estavam à orgulhosa pobreza nacional, em prevenir um reforço à parca reforma comprando uma casinha com a poupança possível. Além do aforro patrimonial, a potencial renda mensal desafogaria, mesmo que pouco, a vida pós aposentação. Ainda hoje, o português médio almeja a possuir a casa, pelo menos como poupança para os anos dourados, ou aforro a deixar à descendência. O partido-estado não gosta; quer ser ele o benfeitor e recipiente, pelo menos na urna, da gratidão das massas empobrecidas.

Quanto à sugestão de que o direito à propriedade não é absoluto, lembremo-nos de que a primeira propriedade de cada indivíduo é o próprio e o que de si faz e produz.

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