Para mim, é complicado materializar o bem-estar no trabalho quando lidamos constantemente com clientes inflexíveis, arrogantes e com formas de comunicar rudes e pouco informadas. Quem nos servem são pessoas: filhos, mães, pais, tios, avós ou cuidadores de alguém. Têm vida e valores. Têm pressa. Têm problemas. Têm conflitos no trabalho. Servir não é ser submisso e espezinhado. Em qualquer sector, servir é uma arte.
Para conseguir estudar, trabalhei numa pastelaria na zona do Lido. Conheci pessoas fantásticas que levo como exemplos de "clientes-maravilha" e também lidei com comentários e atitudes snobes e insolentes. Que escola foi aquela! Quem me dera que todas as pessoas pudessem ter esta oportunidade. Haveria equipas de trabalho menos pressionadas, mais animadas por se sentirem reconhecidas pelos clientes.
Até sou apologista de que deveríamos avaliar mais vezes os clientes, mas em Portugal há uma alergia em sermos avaliados por quem nos presta serviços. Veja-se o caso flagrante da Uber em que somos o único país em que foi abolida a possibilidade do motorista classificar o usuário. Basicamente: queremos, podemos e mandamos porque pagamos.
Neste fim de semana tive uma ideia inovadora: almoçar fora! O restaurante estava a abarrotar. Os colaboradores davam tudo e ainda assim não conseguiam ser tão rápidos como habitual. O ambiente entre eles parecia uma bolha preste a explodir. Estavam a aguentar-se para não começarem a mandar vir uns com os outros (quando na verdade, ninguém tinha culpa. Estava mesmo cheio de clientes).
Precisava de me despachar pois tinha um compromisso, mas fui eu que escolhi comer ali e pus a jeito. Certo? Por isso, pensei para mim: "aguenta-te ou vai embora". Contudo, outros clientes não queriam nem saber se os colaboradores estavam ou não no seu limite. As reclamações e o discurso "torto" vinham uns atrás dos outros, inclusive das pessoas com quem fui almoçar: "Olhe, eu já estou aqui há tanto tempo à espera!"; "Então e o meu pedido?! "Não vão pôr à mesa?!"; "Isso não está certo! Eu pedi primeiro do que aquela pessoa"; "É inadmissível!"; "Eu estou mesmo ali, não me diga que não me viu?". E eu respirava fundo (e voltei a fazê-lo neste momento ao rever o cenário). Bem, se é para se chatear assim, para quê almoçar fora? Fica em casa. Isola-te. Faz tu rápido e melhor. É suposto isto ser agradável, credo!
Como é possível "ver a casa a arder" e em vez de ter uma atitude pacífica e educada, criamos maior frustração nos outros? E se fosses tu a servir ou alguém de quem tu gostas muito? Vamos sair do pedestal e assumir que somos todos feitos da mesma matéria. Basta tratarmo-nos melhor.