Mete-se na garganta que arranha e chama a tosse, passeia pelas articulações que ficam emperradas, espalha-se pelos músculos que enfraquecem, abana-nos em tremores que não se controlam, aquece-nos em temperaturas que ultrapassam médias. Agarra-nos num desconforto geral, deixando-nos sem jeito ou posição.
Há quem perca paladar e olfato, ou não consiga encher de ar o peito. Pelos sinais, fiz autoteste. Reconfirmei em farmácia.
Após tantas negas, finalmente arranco uma positiva! Kkkk
Num ápice mudam-se as rotinas: dorme-se em quartos separados, come-se em lugar ou tempo diferente, escalda-se a loiça e copos e talheres em que se toca, a máscara é permanente, o distanciamento constante…
E fica-se mais atento aos sintomas e sinais. Sente-se a companhia calmante e serena dos serviços de saúde.
À medida que vão sabendo, os amigos vão chegando com boa energia, tomam a iniciativa duma prece…
Sem surpresa, dois dias depois não estou só. Esposa e filho revelam sintomas. Sim, estamos todos positivos, apesar das cautelas. Fica a dúvida: será que, antes dos sintomas se apresentarem, eu, já infetado, havia contaminado os co-habitantes?
Já que estamos todos, há cuidados dispensáveis: a máscara, o distanciamento, as loiças reservadas. Partilhamos espaços sem reservas. Mas todos unidos na luta, com alimentação mais enriquecida de vitaminas adequadas, mais líquidos, mais sumos, mais chás, aumentam os vegetais e as frutas, mais descanso. E ficar em isolamento, sem saídas nem visitas. Alimentámos a serenidade, com a esperança que a vacinação nos conferia, e com as medidas que a situação recomendava. Ultrapassámos com sucesso esta prova que, inopinadamente, pode chegar a quem quer que seja. Serviços de saúde atentos dão tranquilidade e orientação.
A vacinação é fator de diminuição de riscos, não duvido. Prova superada, com a gratidão a todos os que nos acompanharam de algum jeito.
A ABSOLUTA
Foi outra surpresa.
Nas regras que a democracia dita irá um só governar, sem oposição que lhe derrube os intentos por votação. O que nos pode surpreender é a forma como se obtêm maiorias.
Este sistema eleitoral tem qualquer semelhança às promoções e saldos, ou à publicidade dos produtos em fim de prazo, ou novidade. Arrebanham-se milhares de voluntários, milhares de utilizadores ativos todos os dias, a todas as horas, que distribuem milhões de emails, milhões de mensagens, milhares de chamadas de call centers. E o que se transmite? Programas, projetos, propostas? Nada disso.
Divulgam-se imagens de arruadas fabricadas, onde se vai fazendo passar mensagens subliminares, dando mostra de energia e aceitação, escalpelizam-se as contradições, mesmo que só aparentes, assusta-se o eleitorado com extremismos: ao eleitorado da esquerda, assusta-se com o papão da direita, ao da direita, assusta-se com o radicalismo da esquerda.
Tenta-se denegrir competências, avolumar frases soltas e fora de contexto. As sondagens diárias fazem ziguezaguear os discursos. Não para clarificar programas ou conteúdos, mas apenas para se dizer aquilo que garante resultados positivos e é atrativo. E o Zé Povo vai na onda.
Nós votamos em quê? Naquilo que as máquinas da propaganda nos apresentam de forma cativante e direcionada. Eleições são, cada vez mais, a oportunidade de vender slogans e promoções! Votamos como compramos um produto da moda, que depois se arruma a um canto e jamais se usa. Votamos num sorriso, num grito, por raiva, por vingança, por medo, mesmo que deturpado.
Votamos porque sim ou porque não… Em quê? Sabe-se lá!...
A INVASÃO
O que surpreende não é a invasão.
O que surpreende são aqueles que projetam a negação das evidências, saudosistas das imperiais e totalitárias pretensões de tiranetes que a história comprova e a democracia alheada assobia e alimenta…