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Artigo de Opinião

Psiquiatra

1/10/2024 08:00

Estes pequenos aparelhos, tornaram-se a maior companhia da humanidade. Desde a almofada, aos encontros e terminando na casa de banho, atualmente, poucos são os locais onde eles não chegam. Mas o que é que eles estão a fazer à nossa saúde?

Este ano está mais acesa a questão dos telemóveis nas escolas. A evidência científica continua a mostrar que os telemóveis são deletérios para a nossa cognição, para a nossa capacidade de atenção, raciocínio, para a inteligência no geral. Também para as doenças mentais os telemóveis não são, em muitos casos, boa companhia. Sobretudo porque as aplicações de maior uso são as redes sociais.

Para mim não é uma questão que os telemóveis têm de ser reduzidos / banidos das escolas. As questões são como e quando... porque se estamos a limitar o potencial cognitivo e humano das crianças e jovens, estamos a dificultar o seu crescimento, capacidades emocionais, sociais, ... quando é que vamos intervir para seguirmos outro caminho enquanto sociedade?

Desde há mais de 20 anos que oiço famílias “alternativas” que retiram ou diminuem bastante o tempo da televisão, porque não querem que os seus filhos fiquem os vegetais da televisão. Tantos anos volvidos e agora temos a epidemia dos problemas com os ecrãs. Já existem várias descrições da dificuldade de retirar os ecrãs e das reações das crianças e jovens, como se estivéssemos a falar de dependência física de substâncias como a heroína e a nicotina. As alterações comportamentais na retirada destes aparelhos são completamente assustadoras e refletem a gravidade da dependência. São sinal claro que temos de os retirar durante mais tempo, ao invés de voltar a dar para “sossegar” a criança.

É suposto na vida termos contrariedades, chorarmos, irritarmo-nos, ... e temos de aprender a lidar com elas. Sim, são importantes os períodos em que as crianças perdem o controlo das suas emoções como resposta a regras razoáveis, sobretudo relacionadas em diminuir produtos aditivos.

Porquê que os telemóveis são aditivos? Porque é a forma como fazem negócio. O problema do mundo capitalista moderno ocidental é ser baseado na adição. Quanto mais “aditivo / apetecível” for um produto, maiores são as suas vendas. Independentemente das consequências para os seus consumidores. Temos o grande lóbi da indústria alimentar, que passaram anos a colocar substâncias aditivas nos produtos que comemos para ficarmos “agarrados” a determinados produtos e marcas. Também as redes sociais e todos os que lucram da utilização de telemóveis, fazem-no à custa da nossa saúde. O problema não é o sono, nem a agressividade humana. Esses são problemas transversais a tantas outras atividades... O problema é a adição grave que eles provocam e a diminuição da inteligência geral das pessoas que os utilizam mais horas. George Orwell não seria tão criativo como sugerir a criação de aparelhos pessoais, que para além de serem vigilantes dos seus utilizadores, são também domesticadores. Através destes aparelhos, preparamo-nos para sermos meros reflexos dos conteúdos que absorvemos, meros reflexos do potencial cognitivo. Se o problema existe nos adultos, é extraordinariamente complexo nas crianças, onde podemos condicionar profundamente o seu desenvolvimento cognitivo e social. Mas como bom povo que somos, vamos deixar andar... assim, os políticos fazem política mais fácil, baseada em gostos e não em conteúdo, e adormecemos novamente a população com uns vídeos virais criados por inteligência artificial.

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