Acreditar é, muito provavelmente, das coisas mais difíceis de alcançar. E a dificuldade aumenta à medida que crescemos. Acreditar requer uma boa dose de fé e de magia, uma certa inocência na benevolência das coisas reais e uma total crença nas coisas imaginárias.
Quando somos pequenos a nossa capacidade de acreditar é quase infinita, na medida em que ainda não estabelecemos, no nosso sistema de valores, os limites do possível e do impossível e, nessa medida, tudo é possível. Uma possibilidade em potência, mas sobretudo em crença.
A Vitória acredita que todas as coisas existem. E é tudo tão simples e assombrosamente verdadeiro na lógica inteligente da infância. Todas as coisas existem porque se dissermos ou escrevermos uma palavra que não existe, ela passa a existir; porque se desenharmos algo que não existe, essa coisa passa a existir; porque se tivermos um pensamento que não existe, ele também passa a existir. É espantosa esta capacidade de não apenas abarcar o mundo, mas de criar um mundo onde antes nada existia. Uma espécie de génesis infantil de nomear e fazer existir num único movimento.
Já a Olívia decidiu que quer ser tudo. Não uma profissão em particular, mas experimentar tudo como se houvesse tempo e capacidade no mundo para todas as possibilidades e para toda as concretizações. Aqui o céu não é o limite, o limite está em algo mais além, algo infinito como uma vida a começar.
E não é possível saber a partir de que momento o mundo fica mais pequeno, e todos os mundos imaginários cessam de existir. Não é possível saber em que exato momento deixamos de ter uma porta misteriosa no quarto por onde entram todos os medos e por onde saem todos os sonhos.
Não sabemos ao certo quando deixamos de ser esta sinfonia de harmonia e possibilidade para passarmos a ser uma coisa que duvida, que deixa de ver o mundo sem margens ou metas. Não sabemos ao certo quando o mundo e a nossa cabeça deixam de ser um balão que cresce com todo o ar dos pulmões e do universo. Basta soprarmos e aparece a grande possibilidade de todas as coisas existirem, nem que para isso seja preciso inventá-las.
Mas, às vezes, e só às vezes, é maravilhoso quando pela mão de uma criança conseguimos voltar a ver o mundo na sua imensidão de coisas existentes e imaginadas e voltamos a ser suficientemente pequenos para cabermos na porta misteriosa do quarto por onde entram todos os medos e saem todos os sonhos. E aí, nesse momento, todas as coisas passam novamente a existir.