Paralelamente, neste desígnio de apropriação global, e poder, a nossa "aldeia global" na feliz caracterização de H. McLuhan (1996), cada vez mais se vai transformando num mercado global, universal, onde a mercantilização se dissemina, de par com a digitalização das nossas vidas pessoais, profissionais e organizacionais. Naquilo, aliás, que alguém designou de "individualismo de redes" vamos caminhando para a economia de redes, o sistema financeiro de redes, o jornalismo de redes e, naturalmente, para um sistema político de redes…
Neste contexto o fascínio pela Internet e as suas múltiplas oportunidades veio converter a tecnologia num poder, não só de transformação pessoal, como num poder económico, social e político.
O desafio é imenso, mas os riscos são também enormes.
No caso das tecnologias digitais, muito particularmente a Internet, é hoje dado adquirido que todos podem, a todo o tempo, procurar a informação. Mais, ainda, todos podem desafiar os "especialistas" e tornar-se, eles mesmos, experts, naquilo que vulgarmente se designa por "desintermediação" do conhecimento. Os riscos, todavia, que existem, por ausência de mecanismos fiáveis e seguros de avaliação, levam muitas das vezes à impossibilidade de corrigir as falsidades e erros na informação que, também, em muitos casos, convive num contexto de profusa opulência de conteúdos, rumores, redundâncias e fragmentações.
A complexidade, que se alia a este modelo, envolve assim a dimensão que permite associar ao papel de interveniente comunicacional o, também, de "ator principal" na produção da informação. Enquanto agente de partilha on-line, ou como hoje é vulgar designar-se de editor, broadcaster, player, ou mesmo "propagandista" de informações, muitas destas sem consistência ou credibilidade face ao conteúdo -quando não eivadas de falsidades, parcialidades ou mesmo ódios, sejam ou não proferidas a coberto do anonimato; estamos perante a mudança do paradigma da confiabilidade, quando não da qualidade da própria informação veiculada. Martins e Garcia (2016) adotam, aliás, a este propósito, a feliz caracterização quando referem a representação do "homo connexus" no "homo credulus".
O contexto e a evolução que ainda assistiremos estão, pois, longe de definidos. Algumas questões (mais que certezas) podem ser evidenciadas. Que modelos de relações sociais, narrativas de vida e contexto de socialização e sociabilidade sairão destas mudanças e desta inundação do meio social, por força da mediatização digital? Continuaremos os mesmos, ou arriscamos pior, se nos desligamos, cada vez mais, dos grupos sociais tradicionais, para mergulharmos, por vezes secreta, anónima ou em alter-ego, em redes sociais que proliferam na Internet sob os mais variados interesses?
A finalizar pensamos, que sendo certo que as tecnologias de comunicação e informação encerram oportunidades e desafios não as devemos circunscrever a mera lógica utilitarista do seu uso, numa tradicional contabilização cega de vantagem versus desvantagem. O que importará, acima de tudo, também aqui, quando se fala em progresso humano é detalhar as implicações que estas tecnologias nos podem trazer nos planos social, político e ético e como aproveitá-las no seu melhor.