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Artigo de Opinião

9/07/2024 08:00

1. O homem que não comenta

Só uma boa gargalhada pode seguir-se à audição das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, o pai do Dr Nuno Rebelo de Sousa, na semana passada.

Como sabemos, o Dr Nuno, com o seu ar entre o gozão e o dândi, maçado com aquela minudência de ter de responder perante uma Comissão de Inquérito da Assembleia da República foi finalmente ouvido, depois de ter encenado a sua recusa em sequer comparecer na referida Comissão.

Depois de aconselhado, lá foi fazer a sua triste prestação que é do conhecimento público.

Marcelo Rebelo de Sousa, quando instado a comentar disse:

“Eu em relação ao Parlamento nunca comento o que se passa lá, portanto (...) entendo que a separação de poderes leva e deve levar o Presidente da República a não comentar o que se passa lá. Portanto não posso comentar (...)”.

Não é preciso ter memória de elefante para recordar dezenas e dezenas de comentários de Marcelo sobre tudo e mais alguma coisa. Sobre posições de partidos no Parlamento, dando palpites sobre o que deve ser feito no orçamento, por exemplo, sobre iniciativas do governo, quer de António Costa quer de Luís Montenegro, dando palpites sobre o que deve e não deve ser aprovado, comentando o que é e não é aprovado no Parlamento, etc.

É este o descredibilizado Presidente da República que vamos tendo, atropelado pelas suas próprias palavras, dia após dia, rumo ao fim do mandato.

2. Tudo já e agora

Já aqui escrevi sobre o tema das negociações para o estabelecimento dos complementos remuneratórios das forças policiais, mas tenho de regressar ao tema para comentar os últimos desenvolvimentos.

Pedro Nuno Santos, aproveitando as vésperas do debate de propostas do Chega na Assembleia da República, declarou que o Governo tinha falhado na negociação – um fracasso de capacidade.

Não deixa de ser um atrevimento, de alguém que integrou o governo socialista anterior e que é líder do partido que simplesmente desconsiderou em toda a linha os polícias. Não só as desconsiderou como promoveu desigualdades entre diferentes estruturas das forças de segurança, abrindo um conflito que foi incapaz de solucionar.

Sobre o aumento das retribuições às forças policiais, o Chega procurou um aproveitamento lamentável e uma instrumentalização daqueles que se sentem prejudicados e injustiçados.

Propuseram aumentos muito superiores àqueles que o governo de Luís Montenegro considera estar nas possibilidades orçamentais imediatas.

Mas como estamos em tempos de “quem dá mais”, potenciados pela frágil maioria que suporta o governo em Portugal, tudo serve para o foguetório político.

Mesmo assim, o executivo de Montenegro tem mostrado disponibilidade para entendimentos, dialogando com os professores, as forças de segurança, enfermeiros e médicos.

Daí até ser tudo possível já e agora vai uma grande distância. Agora uma coisa é certa. A vontade de cumprir com os compromissos assumidos na campanha e a capacidade para tomar decisões, é algo que está a ser mostrado, semana após semana.

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