Quantas vezes ouvi estas palavras ditas pela minha própria mãe quando estava a crescer e desafiava insistentemente uma regra imposta pelos adultos. Mas porquê? Porque não?
Perante a minha percepção do mundo de outrora, desdenhava aquela profecia, pensando para mim mesma que aquilo não fazia qualquer sentido.
Quantas vezes me senti injustiçada ou incompreendida pelos adultos e afirmei para mim mesma que não repetiria os mesmos comportamentos, nem imporia as mesmas regras "absurdas" quando chegasse a minha vez!
Agora, até sinto vontade de rir perante tão ingénuas e vãs promessas.
Hoje sou mãe de quatro crianças pequenas e já perdi a conta de quantas vezes soei exatamente como a minha mãe ao falar com eles, parecendo um eco a atravessar o tempo.
"Estás pagando" diria a minha vizinha retirando um certo prazer sádico à situação ao ver-me hoje neste papel materno a tentar sê-lo sem repetir algumas exatas frases ditas pela minha querida e incompreendida mãe.
É curioso como a nossa educação se impregna em nós e a Psicologia explica porque isto acontece. A voz dos nossos pais, quando estamos a crescer, nossas figuras primárias de referência, afetos e amor torna-se pois na nossa voz interna.
Aquilo que dizemos aos nossos filhos sobre eles, de bom e de menos bom, torna-se uma verdade absoluta. E aqui reside um perigo muito grande.
Na grande maioria das vezes damos por nós a repetir inconscientemente os padrões comportamentais a que fomos expostos na nossa infância, não só com os nossos próprios filhos como em outros relacionamentos.
O vínculo com a figura primária, a forma como fomos cuidados, amados, rejeitados… os diálogos que foram realizados connosco e até os rótulos que nos foram postos viajam connosco até à nossa idade adulta e emergem, sob a forma de confiança inabalável ou insegurança, capacidade de iniciativa ou inibição, medos ou coragem.
Emergem também com toda a força do inconsciente sob a forma de gritos, intolerância e por vezes até raiva perante os conflitos com os nossos próprios filhos. Atitudes estas que nos envergonham muitas vezes e nos fazem carregar uma culpa atroz por querer fazer diferente, por querer fazer melhor.
Recebo muitas mães que se sentem assim. Envergonhadas, carregando um grande peso dentro de si e sentindo-se insuficientes como mães.
A boa notícia é que é possível fazer um trabalho para alterar estes comportamentos indesejáveis. E a chave desta mudança no relacionamento com os nossos filhos começa mesmo em nós. Eu sei, parece um clichê e é uma verdade escancarada.
Quando começamos a aceitar-nos como somos, com as nossas imperfeições, o mundo à nossa volta começa a mudar.
Quando nos perdoamos pelos erros cometidos e substituímos a culpa por responsabilidade, um pouco a cada dia, o mundo à nossa volta começa a mudar.
Quando percebemos que nós somos importantes e merecemos tempo para nós, o mundo começa a mudar.
Tu mudas e o mundo muda contigo.
Reencontras-te, sentes-te mais leve. Ganhas consciência do tipo de mãe que queres ser e se as tuas acções no dia a dia estão a aproximar-te dessa visão.
Recuperas a tua criança interior e leva-la para brincar com os teus filhos e é tão bom!
Compreendes que os teus pais deram o seu melhor e agradeces-lhes e começas a perdoá-los pelas formas inconscientes com que te magoaram.
Começas a perceber que tu és a adulta agora e que podes e deves cuidar da tua criança interior.
Percebes que podes delegar. E que está tudo bem em pedir ajuda e em não ser capaz de fazer tudo bem. Exatamente porque não é suposto isso acontecer. Porque não és perfeita.
E como dizia o psicanalista Winnicott: não tens que ser perfeita, só tens que ser uma mãe suficientemente boa.
Por isso descansa. Alguns gritos e ameaças de que "um dia vais entender!" também fazem parte da equação da maternidade real, perfeitamente imperfeita.