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Artigo de Opinião

Professora Universitária

27/06/2022 05:41

Explica a DREM que as horas efetivamente trabalhadas têm sido superiores ao aumento do custo médio por trabalhador. Isto é, trabalha-se mais e não se ganha mais por isso. Apesar de em relação ao ano passado não se apresentarem os condicionamentos da atividade económica devidos ao contexto de pandemia que afetou o setor fundamental da atividade turística (com menos de quase 82% do número de dormidas), o custo por trabalhador, em vez de aumentar - recompensando o trabalho e incentivando, assim, a atratividade do trabalho na RAM -, diminui. Daí que seja importante compreender qual é o efeito desta área no custo médio do trabalho. Na semana passada, um artigo publicado num semanário local em que o cronista António Cruz alertava para o mal que se paga numa parte do setor turístico.

Há, depois, a considerar também um outro índice que a DREM nos fornece: no primeiro trimestre de 2022, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador na Região foi inferior em 60 euros (-4,8%) à do País. Se as atividades da indústria tecnológica, financeiras e de serviços financeiros com forte intensidade de conhecimento alavancaram na RAM os maiores aumentos - comprovando a necessidade de uma estratégia de captação de formação superior, tecnológica e na ciência que tanta falta faz à Madeira -, as áreas de serviços e as empresas de 50 a 99 trabalhadores apresentam as maiores descidas.

Os salários dos empregados da administração pública praticamente nem aquecem, nem arrefecem, o que pode desmotivar os que trabalham num setor tão importante para o funcionamento da sociedade e da democracia. Durante décadas cobiçados, os empregos na área parecem ser hoje considerados o último reduto de quem não sabe fazer outra coisa mais do que ser professor, médico, técnico, etc., etc., do estado, enfrentando carreiras em que se sobe penosamente, com avaliações muitas vezes desgastantes (e não sou contra avaliações, note-se, mas quem é bem avaliado deve ter uma recompensa correspondente e não a visão de uma cenoura que não existe).

Este texto tem muitos números.

Pois tem. Mas, são necessários, porque a eles se liga a perda da população e dos jovens que as migrações de países como a Venezuela não conseguem travar. E a perda de recursos humanos com formação ao mais alto nível - só isso explica, aliás, que os jovens, em quem a Região apostou a nível da educação e da formação, se vejam obrigados a escolher outros territórios para fazer a sua vida profissional, contribuindo com o seu saber para o desenvolvimento desses outros lugares, do continente ao estrangeiro. A mobilidade é até desejável, eu que o diga, mas deve ser fruto de uma escolha individual, não forçada por um território onde se ganha menos pelo mesmo trabalho (se fazer camas compensa mais no Porto, na Alemanha ou na Inglaterra, porque faço camas aqui?), onde faltam oportunidades para carreiras de forte intensidade de conhecimento e, ao mesmo tempo, onde a habitação é uma das mais caras do país e a saúde tem tempos com que as maleitas do corpo não se compadecem.

Infelizmente, os números explicam também a desistência que muitos sentem face à consciência das desigualdades e a um sistema económico que trai quem trabalha. O agudizar da emergência ambiental, com importantes consequências em todos os setores e na vida de cada um, parece também vazio de estratégias de futuro, contribuindo para o sentimento de homem desenraizado, fora do âmbito das decisões, comandado e excluído, que perdeu dolorosamente a morada fixa. Não deixemos, por isso, que o nosso pensamento se normalize, nem nos deixemos levar por uma política de pequenas conflituosidades, quando o que está em jogo é o "civilis homo", cuja base é um sistema económico humanista, a dignidade do trabalho.

Luísa Antunes escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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