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Artigo de Opinião

19/06/2021 08:01

É desta forma, direta, seca, quase brutal, que começa um artigo intitulado "The Forever Virus", publicado no último número da Foreign Affairs (julho/agosto de 2021) sobre a mais que previsível longevidade desta pandemia. Poderia parecer alarmista, não fora a equipa que o escreveu (Larry Brilliant, Lisa Danzig, Karen Oppenheimer, Agastya Mondal, Rick Bright e W. Ian Lipkin) ser constituída por peritos de competências diversas, abarcam campos como a epidemiologia, a vacinação, a biologia computacional, a investigação sobre imunidade, ou a coordenação de estratégia e operações de saúde global e ocupam posições de destaque em universidades norte-americanas, organismos públicos e até mesmo a vice-presidência da Fundação Rockfeller (que é um importante mecenas da investigação científica).

Ao longo do artigo, fazem uma análise das razões para que seja virtualmente impossível conseguirmos atingir a imunidade de grupo, pelo menos a breve trecho (apesar de, até agora, ter sido sempre apresentada como a única solução), das condições e as escolhas que nos trouxeram até este ponto, e das alternativas para podermos controlar melhor o surgimento de pandemias deste tipo.

Não podemos alcançar a imunidade de grupo quando a grande maioria dos países não tem vacinas em número suficiente para começar a vacinar toda a gente. No mês passado, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o diretor geral da Organização Mundial de Saúde anunciou que quase 80% das vacinas disponíveis tinham como destino apenas 10 países, no que considerou uma «escandalosa iniquidade que perpetua a pandemia». A desigualdade e injustiça tornam-se ainda mais evidentes quando sabemos que alguns destes 10 países têm uma quantidade de doses capaz de imunizar toda a sua população por duas ou três vezes. Mas mesmo nos pouquíssimos países com número suficiente de vacinas há problemas: demasiada gente, em boa parte por causa de criminosas campanhas de desinformação, recusa-se a tomar a vacina.

A propósito de desinformação, notícias falsas e políticas negacionistas, temos de ter em conta que se as consequências são sempre graves, em tempos de pandemia tornam-se literalmente mortais. Estranhamente (ou talvez não), os países com líderes populistas e nacionalistas, tais como Brasil, EUA, Rússia, Índia, China, Turquia e até mesmo o Reino Unido, não só foram mais afetados como dificultaram a coordenação de uma resposta internacional que contribuiu para o agravamento da dispersão do vírus. A título de exemplo, vale a pena atentar nestes números: Nos Estados Unidos da América, país onde a ciência mais avançada foi ostensivamente ignorada, e onde reside pouco mais de 4% da população mundial, verificaram-se cerca de 25% das infeções e de 20% das mortes até maio.

Quanto mais tempo o vírus andar por aí, quanto mais gente for infetada, maior é a possibilidade de aparecerem variantes perigosas, mais contagiosas, resistentes às vacinas e eventuais curas ou mais difíceis de detetar na testagem. Durante os chamados surtos hiperintensos como os de Nova Iorque há pouco mais de um ano, Brasil em março e Índia no mês passado, aumenta drasticamente a probabilidade de emergirem estas supervariantes.

Países e territórios que, pelas suas condições específicas, tiveram algum sucesso inicial no controlo da doença por poderem facilmente fechar fronteiras, por terem testado maciçamente, seguido os contactos e isolado a população infetada prevenindo o contágio, ganharam tempo. No entanto, esse tempo extra é inútil se não houver boa vontade e coordenação que permitam vacinar uma maioria significativa da população antes do próximo grande surto deitar por terra todo o trabalho já feito.

António Guterres, Secretário-Geral da ONU, ontem reconduzido num segundo mandato alertou para a situação de quase 125 milhões de pessoas que caíram em situação de pobreza grave como consequência direta da CoViD-19.

As desigualdades, internacionais e domésticas, saem mais caras a todos. Só com uma estratégia global poderemos ultrapassar esta tempestade intermitente, que está longe de anunciar a bonança.

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