A ideia base assenta no pressuposto de que se as entidades envolvidas num assunto polémico não falarem, então acaba a polémica e morre o assunto.
Nada mais errado. Na maior parte das vezes, o silêncio vem sob um manto de desconfiança nas instituições e nas pessoas.
E há uma agravante: na Madeira, quando alguém trava a informação, acelera a bilhardice, talvez o desporto com mais praticantes em qualquer meio pequeno. E a polémica continua na base do diz que disse, do segredinho, da mensagem trocada e truncada, na partilha de informações erradas. Tudo isso porque alguém achou que era melhor varrer para debaixo do tapete problemas que estão praticamente à vista de todos.
Nos últimos tempos assistimos a vários exemplos dessa atitude com diversas origens e diferentes quadrantes políticos, sociais e desportivos. E o que era segredo deixou de o ser.
Era segredo toda a trama que durou anos no Conservatório da Madeira. Resultado: o problema agravou-se de tal forma que acabou por sair à rua com estrondo. Durante largos meses, e mesmo anos, ganhou a ideia de defesa da instituição. Mas perderam as pessoas. E, no fim do dia, perde também a instituição.
Na notícia sobre outra denúncia de abuso sexual, publicada na edição de ontem, fica mais do que claro esse esforço em que não se fale do assunto. Uma Secretaria Regional resumiu a sua posição através de uma única e simples palavra. "Não". E respondeu assim à pergunta sobre se tinha conhecimento de queixas relacionadas com este caso. E outra Secretaria optou por citar o exaustivo quadro legal em vigor e que ajuda a suportar a política do segredo. O mesmo silêncio fez-se ouvir de outras entidades.
Mas há outros casos.
Ainda esta semana o Jornal procurou saber junto de diferentes serviços públicos como se explicam, com clareza, as situações que levam frequentemente à interdição das zonas balneares dos Reis Magos e da Doca do Cavacas. E as respostas foram vagas e a deixar a ideia que isso é competência de outro departamento, num claro jogo do empurra, mas às escondidas.
Será que esta opacidade ajuda a resolver um constrangimento perfeitamente identificado? Claro que não.
O mesmo acontece com outras situações. A tentativa de encobrir ou evitar que se fale de problemas acontece muito quando os temas são incómodos, nomeadamente quando se fala de exclusão social, de sem-abrigo, de pobreza, de diferentes formas de abuso, de drogas, de violência, de atrasos, de falhas.
Curiosamente, o tempo tem demonstrado que esconder não resolve essas dificuldades. Na maior parte dos casos só agrava.
O Desporto, como vimos esta semana, tem também os seus segredos. Em plena crise diretiva e desportiva, o presidente do Marítimo foi claro como água. Mas essa determinação durou pouco. À medida que os minutos, as horas e os dias passavam, aumentava o silêncio. E o que era um clima de guerra acabou por ser pintado como um ambiente de harmonia. Claro que entre um extremo e outro está mais um segredo que um dia vai cair na rua.
Estes e vários outros exemplos confirmam que a técnica de varrer para debaixo do tapete até pode ser eficaz durante algum tempo. Mas nunca pelo tempo todo.