Um marégrafo é um instrumento que mede e regista o fluxo e refluxo das marés no ponto (da costa, normalmente) em que está instalado. Desta forma podemos medir os níveis máximo e mínimo do mar ao longo de um período extenso, calcular o nível médio do mar e, a partir deste, o zero hidrográfico (ZH) que serve de base à elaboração de tábuas de marés (na altura relativamente ao ZH) e de cartas marítimas.
Além de máximos e mínimos, podemos também estudar e analisar a dinâmica das marés, por exemplo, o ritmo a que sobem e descem, bem como a influência que tem na fauna e flora características do espaço entre marés, às vezes também denominado com zona intertidal. Quem convive com o mar, como será o caso de grande parte da população madeirense, conhece bem este espaço. Apesar de reduzida, é uma zona rica em biodiversidade, sujeita a períodos de emersão e imersão que variam ao longo do dia, de dia para dia e a horas diferentes ao longo do mês, mas também exposta à força da ondulação, por vezes bastante violenta. É o caso das algas e limos, das lapas agarradas à rocha (como algumas pessoas ao poder), das estrelas-do-mar (pouco brilhantes, mas de braços compridos), dos ouriços, dos caramujos ou do proverbial mexilhão, eterno sofredor.
Deste ponto de vista, os ciclos das marés, não são muito diferentes dos ciclos económicos, ainda que estes sejam mais dilatados no tempo.
No "mare economicus" os diagramas dos marégrafos ganham outros nomes, tais como índices de bolsa, evolução do PIB per capita, censos, risco de pobreza, etc..., e também fornecem informação importante para podermos perceber como vai a flora e a fauna deste ecossistema.
Também neste caso a população madeirense conhece bem a realidade. Ao fim de mais quatro anos, de quase cinco décadas, há hoje mais gente que passa mais tempo debaixo de água, e sabemos quem são os poucos que estão sempre secos, independentemente da força das ondas e da tempestade. Conhecem bem as lesmas e lapas deste mar, as estrelas sem brilho e, aqui entre nós que ninguém nos ouve, estava capaz de apostar que se sentem cada vez mais como os mexilhões.
Duvida? Façamos um pequeno exercício. Começou a época em que todos os dias nos repetem que a economia da região está num ritmo de crescimento brutal, que ganhamos prémios de melhor do mundo todas as semanas e que está tudo a correr às mil maravilhas. Não precisa de dizer, mas pense: Está melhor hoje do que há quatro anos?
Mesmo sabendo que subiu o valor absoluto do ordenado ou pensão, sobra-lhe mais dinheiro ao fim do mês (ou menos mês ao fim do dinheiro)? O mercado da habitação está pujantíssimo, um excelente indicador económico… Mas, para si, que paga empréstimo ou renda de casa, como está? Melhor ou pior? E o Turismo, um motor da economia, com prémios de braçado, estamos a prestar melhor serviço? Estamos a pagar melhor a quem trabalha? E, para não maçar mais, num setor em que apregoamos que somos referência internacional e que vem gente de longe aprender comos se faz, como vai a sua saúde? Tem as consultas e cirurgias em dia?
Para quem só veio ver o mar ou leu até ao fim, no Porto do Funchal, as marés baixas deste fim-de-semana são às 07.15 da manhã e às 19:50 de sábado e, no domingo às 07:54 e 20.21. Já a preia-mar será às 13:31 de sábado, 01:51 e 14:11 de domingo. As eleições são a 24 de setembro. Só o voto pode mudar o ciclo.
É tempo de mudar, Madeira.
(*) «(…)nam iniusta ab iustis impetrari non decet, iusta autem ab iniustis petere insipientia est, quippe ille iniqui ius ignorant neque tenent»