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Artigo de Opinião

5/01/2023 11:20

Em Portugal, a 9 de dezembro, foi aprovada, na Assembleia da República, a lei que permite que os seus residentes possam aceder à morte medicamente assistida (MMA). Em falta, está a promulgação do nosso Presidente.

A lei diz que, depois do pedido ser feito por um adulto residente em Portugal, é obrigatório a avaliação por parte de dois médicos especialistas, para confirmar o diagnóstico de doença incurável e dolorosa (física e espiritualmente). É imperativo que um psicólogo clínico acompanhe o paciente (o paciente pode recusar). Existe ainda a possibilidade de ser pedida avaliação psiquiatra para avaliar as capacidades cognitivas e/ou despistar doenças mentais do paciente que requer a MMA

O tema MMA tem levantado muitas polémicas, mas com muita informação incorreta pelo meio.

A morte parece ser um tabu. Será porque, depois de perder alguém, fica a tristeza? A nossa música tradicional é o fado, "silêncio que se vai cantar o fado". É no silêncio e na tristeza que se faz um luto.

A única certeza que temos ao nascer, é que vamos morrer. Uma verdade que recusamos aceitar, a maioria de nós foge da morte. Um dia destes ouvi uma idosa a dizer algo como: "Depois dos 70 pedimos só mais um ano." A minha surpresa foi a expressão de choque de alguém que também tinha mais de 70. O tabu estava lá, não se fala nem se quer pensar na morte.

Durante a pandemia a cantor John Legend e a sua esposa tiveram um bebé. Este bebé, infelizmente "veio ao mundo" sem vida. Ambos postaram nas suas redes sociais fotos com o bebé morto. Dor e combate ao tabu foi o que li na imagem que vi. A morte estava lá.

Se não fugíssemos tanto da morte iríamos, talvez, aceitar melhor quem se recusa a "padecer" antes de morrer decidindo o momento da sua morte.

Esta lei tem a ver com a liberdade de poder escolher "não padecer". Jesus sofreu e padeceu. O filme "Paixão de Cristo" descreve muito bem este sofrimento físico.

Na minha opinião, evolução das sociedades implica sempre mais liberdade. Todos têm de ser respeitados nas suas diferentes vontades. Quem quer e quem não quer.

O filme "Mar Adentro" conta a história verídica de um homem, Ramón¸ tetraplégico "pobre" que é ajudado pelos seus amigos a morrer (Lei MMA não existia em Espanha). É um filme duro que descreve bem o sofrimento de Ramón quando decide terminar com o seu sofrimento, numa vida que para ele já não era vida. Descreve também, o grande amor dos seus amigos, que arriscaram serem punidos pela lei quando o ajudam a morrer.

Outro filme "Me before you". Conta a história fictícia de Wiil, jovem tetraplégico e "rico", que estava em sofrimento. Mostra bem a dor da cuidadora e dos seus pais, perante a decisão de Wiil querer a MMA. Todos temos medo de perder alguém que amamos e que nos ama.

Acho sempre que a maioria dos que são contra esta lei têm, sem perceber, mais medo da possibilidade de perder, através da MMA, alguém que amam do que propriamente da lei em si.

A diferença entre uma história e outra é o poder do dinheiro. Há portugueses que viajam até a Suíça para recorrerem à MMA.

A liberdade de poder escolher "não padecer" parece ser justa e digna, independentemente do poder económico. Quantos sofrem revoltados?

Claro que a aprovação da lei assusta. Afinal, sem possibilidade de escolha, é menos uma decisão que podemos tomar.

Para mim, amar é deixar ir quem quer ir mesmo sabendo que nos vai custar muito.

"La vida es un derecho, no una obligación." Ramón Sampedro

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