Pois bem, ao analisarmos os discursos dos diferentes líderes partidários na votação do Orçamento do Estado na generalidade, podemos perceber as diferentes visões de política e sociedade que as diferentes forças partidárias têm para o país. Num momento que as esquerdas deveriam convergir, tendo em vista a consolidação da recuperação, ainda ténue, da economia e das condições de vida dos cidadãos, ainda em tempos de pandemia. Importa relembrar que a pandemia ainda não acabou e a recuperação da economia precisa(va) de estabilidade, ousadia e visão, o que continua a faltar no atual quadro parlamentar e sistema político português. Voltando à votação contra o Orçamento do Estado, esta só irá penalizar o Bloco de Esquerda e quiçá os Comunistas. O PS de António Costa acaba(rá) por sair favorecido pois, tem tudo para pedir o voto útil aos pelo menos dois milhões, setecentos e quarenta mil cidadãos que votaram nas esquerdas nas ultimas eleições. À esquerda, para além do PS, só mesmo o PAN e o Livre terão muito provavelmente condições (e moral) para aumentar a sua base de apoio e representação parlamentar. Vejamos o que aconteceu ao Bloco na Madeira nos tempos de Paulino Ascenção. Desapareceu e não deixou saudades. Assistimos a vários "tiros no pé" do Bloco que agora podem muito bem vir a ter uma expressão nacional. Quem terá (muito) a ganhar será a direita e as suas diferentes forças partidárias com representação parlamentar, a destacar, PSD, Iniciativa Liberal e Chega. O CDS será uma incógnita.
Relativamente à política orçamental e económica que este Orçamento agora chumbado proponha, terá Ana Catarina Mendes, presidente do Grupo Parlamentar do PS, razão quando esta afirmou que esta proposta de Orçamento era/é o Orçamento mais à esquerda durante os tempos da geringonça. Creio que sim. Por muito menos, o Bloco e os Comunistas aprovaram os últimos seis Orçamentos, mas parece que já ninguém se lembra. E agora? Quem vai gerir as expectativas dos Portugueses? Nas políticas de saúde? Quanto aos aumentos das pensões? Do salário mínimo? À redução do custo da electricidade? E do preço dos combustíveis? À progressiva gratuitidade das creches? À gestão dos fundos comunitários?
Importa relembrar que os mais recentes dados do Eurostat, divulgados esta semana revelam que Portugal tem a terceira maior dívida pública da União Europeia no segundo trimestre deste ano, apenas atrás da Grécia e de Itália. Fraco crescimento económico, baixos salários, precariedade, pobreza estrutural e com uma crise pandémica ainda em mãos. Ainda assim, assistimos à teimosia patética do Bloco com a sua lista de medidas extra orçamentais, que nada têm em conta o interesse imediato dos portugueses, nem a necessária estabilidade que o país necessita.
*Universidade de Windsor, Canadá