O arquipélago francês de Mayotte, que enfrenta uma crise humanitária devastadora após a passagem do ciclone Chido, decretou hoje o recolher obrigatório para garantir a segurança, enquanto se intensificam os esforços de resgate e assistência humanitária.
Três dias após o ciclone, o mais intenso a atingir Mayotte nos últimos 90 anos, o arquipélago está a precisar de tudo e os habitantes estão alarmados com a deterioração da situação sanitária, visando o recolher obrigatório, que vigorará entre as 22h00 e as 4h00 locais (menos três horas em Lisboa), evitar pilhagens, explicou o Ministério do Interior.
Segundo as informações que chegam do arquipélago, pelo menos 200 voluntários da Cruz Vermelha estão desaparecidos depois de o ciclone ter atingido a ilha francesa no sul do Oceano Índico (entre Madagascar e a costa de Moçambique).
“Não temos qualquer contacto com eles”, disse hoje o porta-voz da Federação das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV), Tommaso della Longa, citado na conta oficial da organização no X.
De acordo com a organização, estão atualmente a ser entregues cerca de 30 toneladas de material e ajuda humanitária às zonas afetadas e para ajudar na busca dos desaparecidos.
“Perante esta tragédia, que abalou todos e cada um de nós, vou declarar luto nacional”, anunciou, na segunda-feira à noite, o Presidente francês, Emmanuel Macron, que se deslocará a Mayotte “nos próximos dias” para apoiar a população e as pessoas envolvidas.
O número oficial de mortos divulgado por fontes hospitalares é de 21, mas as autoridades temem “várias centenas” de mortos, talvez mesmo “alguns milhares” na região mais pobre de França.
“O número de mortos será elevado, demasiado elevado”, advertiu o ministro do Interior cessante, Bruno Retailleau, na segunda-feira.
A contagem é ainda mais complicada porque Mayotte tem uma forte tradição muçulmana e, de acordo com os ritos islâmicos, muitos dos mortos foram provavelmente enterrados nas 24 horas seguintes.
O ciclone Chido atingiu ainda o norte de Moçambique, onde matou pelo menos 34 pessoas, feriu mais de 300 e destruiu mais de 20.000 casas, anunciou hoje o Instituto Nacional de Gestão de Riscos e Calamidades.
Segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas, o número de pessoas afectadas pelo Chido é de pelo menos 174.000.
Mayotte “está totalmente devastada”, explicou Retailleau, na Ilha da Reunião, um território francês a 1.400 quilómetros de Mayotte, de onde regressou hoje, acrescentando que “70% dos habitantes foram gravemente afectados”.
O ministro anunciou igualmente a chegada, “nos próximos dias”, de mais 400 agentes para apoiarem os 1.600 guardas e polícias presentes no arquipélago, sublinhando que, até ao momento, “não se registaram verdadeiros saques”.
Sinal das dificuldades sentidas pelas populações é o afluxo de pessoas às estações de serviço, dois terços das quais foram requisitadas para veículos de emergência, e o facto de,ao meio-dia de hoje, 80% da rede de telemóveis continuar indisponível.
Segundo as autoridades, “as tensões começam a manifestar-se”, sendo a prioridade assegurar as “necessidades vitais” dos habitantes em termos de água e de alimentos, insistiu Retailleau.
De acordo com o Ministério do Interior, 50% da água corrente será restabelecida em 48 horas.
Os socorristas continuam a procurar vítimas, receando que se encontrem muitas nos escombros dos bairros de lata densamente povoados, nomeadamente nas colinas acima de Mamoudzou.
Na segunda-feira, as autoridades da capital apelaram aos seus habitantes adultos “fisicamente aptos” para “reforçarem as equipas no terreno”.
Os apelos à solidariedade e os minutos de silêncio foram generalizados, incluindo no estrangeiro, tendo os Estados Unidos indicado que estavam prontos a “oferecer uma ajuda humanitária adequada”.