A organização Human Rights Watch afirmou hoje que os Governos europeus continuam por reconhecer e abordar de forma significativa os impactos contínuos dos seus legados coloniais que afetam as pessoas de ascendência africana no continente africano e na diáspora.
Na véspera do 140º aniversário da abertura da Conferência Africana de Berlim, em 1884, quando 19 países europeus e os Estados Unidos se reuniram para organizar e expandir o domínio e a exploração colonial da Europa em África, a organização defendeu uma ação urgente, face aos impactos atuais.
“A Conferência Africana de Berlim marcou um ponto crítico na história colonial da Europa, com os seus impactos duradouros ainda largamente ignorados pelos Estados responsáveis e por outros atores”, disse Almaz Teffera, investigadora sobre o racismo na Europa na Human Rights Watch.
E prosseguiu: “O passar de tantos anos não pôs fim à necessidade de os Governos europeus se debruçarem sobre os seus legados coloniais e criarem processos de reparação centrados nas vítimas e baseados no direito internacional dos direitos humanos, com uma participação significativa das comunidades afetadas”.
A propósito do 15 de novembro, Dekoloniale, um coletivo alemão de projetos descoloniais, vai organizar uma contraversão da conferência original, a Conferência Dekoloniale Berlin Africa.
Ao contrário da conferência original, que excluiu os africanos, esta reunirá africanos e pessoas de ascendência africana que continuam a ser afetados pelo legado do colonialismo europeu para refletir sobre a história da Conferência de Berlim sobre África e o seu impacto duradouro nos dias de hoje.
Num esforço para dar voz aos antigos colonizados, um grupo diversificado de 19 delegados especialistas, tanto de África como da sua diáspora global, partilhará as suas perspetivas sobre a forma de abordar os muitos impactos estruturais e contínuos do colonialismo.
Irá participar neste evento Alice Nkom, advogada camaronesa e defensora dos direitos humanos, Gary Younge, autor premiado do Reino Unido, radialista e professor de sociologia, e Awet Tesfaiesus, advogado e deputado alemão dos Verdes.
Em novembro de 2023, a União Africana organizou uma conferência em Acra, na qual os delegados adotaram uma proclamação que apelava a reparações aos africanos, tanto no continente como na diáspora, como reconhecimento dos profundos danos causados pelo colonialismo europeu, pela escravatura e pelo comércio de escravos.
A proclamação também declarou 2025 o ano da “Justiça para África através de reparações”, que a 37ª Cimeira da União Africana em 2024 confirmou.
Ao nível da União Europeia (UE), alguns membros do Parlamento Europeu propuseram um projeto de resolução sobre justiça reparadora e desenvolvimento sustentável, reconhecendo os impactos duradouros do colonialismo europeu nas desigualdades raciais no mundo. A resolução foi divulgada no final de 2023, mas nunca chegou a ser votada antes das eleições para o Parlamento Europeu, em junho de 2024.
O Grupo Parlamentar de Todos os Partidos para as Reparações Afrikan, presidido pelo deputado trabalhista Bell Ribeiro-Addy, também se debruçou sobre a questão das reparações para corrigir os legados da escravatura e do colonialismo africanos. Ribeiro-Addy fará um discurso de boas-vindas na Conferência Dekoloniale Berlin Africa.