O Governo sul-africano congratulou-se hoje com a suspensão do controverso leilão de cerca de 70 objetos pessoais de Nelson Mandela, o primeiro Presidente negro da África do Sul, previsto para 22 de fevereiro pela Guernsey’s, sediada em Nova Iorque.
“Reitero a importância de preservar e proteger o legado do antigo Presidente Nelson Mandela e o rico património cultural da África do Sul. O nosso património cultural define quem somos e mantém o conhecimento e a memória de onde viemos como nação”, afirmou Zizi Kodwa, ministro do Desporto, Artes e Cultura sul-africano, em comunicado.
Kodwa emitiu a declaração depois de a casa de leilões Guernsey’s ter divulgado, na segunda-feira, na sua página na Internet, que o leilão tinha sido suspenso, sem mais explicações.
“Congratulo-me com a cooperação entre a Agência Sul-Africana para os Recursos do Património (SAHRA, na sigla em inglês) e a casa de leilões Guernsey’s, que prevê a suspensão do leilão dos objetos associados ao antigo Presidente Nelson Mandela”, acrescentou o ministro, sem adiantar, igualmente, mais explicações.
Kodwa disse que a medida permitiria ao Governo sul-africano continuar a recorrer da decisão do Tribunal Superior de Gauteng, com sede em Joanesburgo, que em dezembro passado rejeitou o seu pedido para suspender o leilão após uma batalha legal de dois anos.
A posição das autoridades sul-africanas foi secundada pelo Museu de Robben Island, onde Mandela esteve detido durante 18 dos 27 anos em que esteve privado da liberdade devido à sua luta contra o sistema de segregação racial do ‘apartheid’ (1948-1994).
O tribunal decidiu a favor de uma das filhas do antigo Presidente, Makaziwe Mandela, que, juntamente com o seu antigo guarda prisional David Parr, pretende leiloar os objetos do seu pai.
O SAHRA argumenta que 29 desses bens são propriedade do Estado e devem ser devolvidos à África do Sul, uma posição que o tribunal considerou não ter provas suficientes.
Segundo a Guernsey’s, o dinheiro obtido com a venda será utilizado para construir um jardim memorial perto do local onde o antigo Presidente cresceu e foi enterrado, a aldeia de Qunu, na província do Cabo Oriental, sudeste do país.
“Para aqueles que viveram a extraordinária luta de Nelson Mandela pela liberdade e para as gerações futuras, o jardim servirá como uma lembrança inspiradora de um homem cuja vida nos tocou a todos”, afirmou a casa de leilões.
Entre os objetos oferecidos ao maior licitador estão um bilhete de identidade emitido por Mandela em 1993, cartas escritas e desenhos feitos na prisão, a sua bengala e um presente do antigo Presidente dos EUA, Barack Obama, e da sua mulher, Michelle.
A África do Sul assinalou o 10.º aniversário da morte de Mandela, em 05 de dezembro, aos 95 anos, na sequência de uma recaída de uma infeção pulmonar.
Vencedor do Prémio Nobel da Paz em 1993, Mandela esteve preso durante quase trinta anos por lutar contra o ‘apartheid’ e tornou-se o primeiro Presidente negro da África do Sul nas primeiras eleições livres em 1994, que puseram fim a mais de três séculos de domínio branco.
Cinco anos mais tarde, o herói anti-‘apartheid’ abandonou a Presidência devido à sua idade avançada, não se recandidatando ao cargo.