O Presidente da República assinalou hoje a sobreposição de campanhas legislativas e presidenciais, considerando que isso “constitui um facto interessante” que “para uns é benéfico e para outros é maléfico”.
O chefe de Estado fez este comentário em declarações aos jornalistas, na sede da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, que o tinham questionado sobre a formação do próximo Governo, na sequência das legislativas antecipadas de 18 de maio.
“Temos uma circunstância muito especial, mas que é muito frequente no nosso país – e até estranho que nenhum analista político tenha notado isso –, que é a sobreposição de várias eleições ao mesmo tempo. Já não falo das locais, mas as presidenciais e as legislativas”, realçou.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “não é a primeira vez” que isso acontece e deu como exemplos as campanhas legislativas e presidenciais de 1980, de 1985/1986, e de 1995/1996, com apoios partidários a candidatos presidenciais já apresentados durante as campanhas legislativas.
“Em muitos momentos da história política portuguesa aquilo que está a acontecer agora, que é a sobreposição de legislativas com presenciais, aconteceu no passado e isso constitui um facto interessante”, considerou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, é interessante “porque as candidaturas às legislativas podem estar mais próximas ou não de certas candidaturas presidenciais, ou pré-candidatos ou candidatos presidenciais a pronunciarem-se, mesmo que não estejam próximos das candidaturas legislativas”.
“Há um partido que já definiu numa moção de estratégia a preferência por um candidato da área do partido, e há um candidato da área do partido que avançou”, apontou, numa alusão ao PSD e a Luís Marques Mendes, que apresentou em 06 de fevereiro a sua candidatura às presidenciais de janeiro de 2026.
O Presidente da República quis enfatizar como “a história política portuguesa está cheia dessas sobreposições, noutros casos até mais flagrantes”, e rejeitou querer, com este comentário, deixar alguma mensagem relacionada com as eleições atuais: “Não, não”.
Interrogado se a sobreposição de campanhas é benéfica ou não, respondeu: “Isso depois logo se vê. Para uns é benéfico e para outros é maléfico. Há uns que beneficiam com isso e outros que se prejudicam com isso”.
Questionado se as presidenciais não passaram entretanto para segundo plano, contrapôs: “Estão a correr em simultâneo as eleições todas. As locais conhecem o lançamento de candidaturas, e é no lançamento de candidaturas locais que ocorrem pronúncias sobre as eleições legislativas, e os potenciais candidatos presidenciais ou já candidatos presidenciais são chamados a comentar o que se passa nas legislativas”.
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, nas legislativas em outubro de 2015, que se realizaram pouco antes das presidenciais de janeiro de 2016, às quais foi candidato, não houve sobreposição de campanhas, porque as candidaturas presidenciais foram mais tardias.
“Isso não aconteceu porque não havia candidatos [presidenciais] nos partidos situados à direita no momento em que são travadas as legislativas, e havia um esboço de candidatura de um candidato à esquerda, mas que não tinha sido ainda formalizada. E, portanto, isso não aconteceu”, enquadrou.
Sobre eleições do passado, o chefe de Estado mencionou que, em 1980 “a AD avançou para as legislativas com um candidato presidencial, o general Soares Carneiro”, e em 1985 “o centro-direita e a direita arrancaram para as legislativas com um candidato presidencial, Diogo Freitas do Amaral”.
Em 1995 o tema das presidenciais “dominou a parte final das legislativas, com o doutor Fernando Nogueira a dar a entender que tinha o doutor Cavaco Silva como candidato” apoiado pelo PSD, enquanto do lado do PS “tinha havido já uma definição prévia, porque o Presidente Sampaio tinha avançado muito cedo para a candidatura”.