O ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu hoje que Portugal “é cada vez mais um país relevante” num contexto internacional marcado por “nuvens negras”, identificando União Europeia, NATO, G20, Conselho de Segurança e CPLP como palcos essenciais para a diplomacia.
“Portugal é cada vez mais um país relevante, neste contexto de desagregação internacional. E os diversos palcos onde podemos mostrar essa relevância reforçam a nossa capacidade de projetar e defender os nossos interesses e valores, contribuindo para que a ordem internacional não seja substituída por desordem, e encontrando formas de mitigar o alastramento dos elementos de desordem que já se encontram muito visíveis no nosso horizonte”, disse hoje João Gomes Cravinho, na abertura do Seminário Diplomático, em Lisboa.
Perante um “panorama internacional carregado de nuvens negras”, cabe à diplomacia portuguesa “trabalhar intensamente nos vários palcos para a criação de pontes e para o estabelecimento de entendimentos com países mais próximos e mais remotos”, afirmou o governante, perante diplomatas portugueses, distribuídos por 134 postos em todo o mundo.
O chefe da diplomacia portuguesa identificou cinco palcos “onde a voz portuguesa pode ser relevante” neste ano, a começar pela NATO.
“A nossa legitimidade precisa de crescer através do reforço da nossa capacidade militar, algo que está a acontecer através do maior investimento de sempre nas nossas Forças Armadas, com vista a chegarmos aos 2% do PIB [produto interno bruto] despendidos em Defesa até 2030”, defendeu.
Por outro lado, Portugal está “na linha da frente” do trabalho sobre o relacionamento com o Sul, através da nomeação da professora Ana Santos Pinto para liderar o respetivo grupo de reflexão na NATO, destacou o ministro.
Na União Europeia, salientou, Portugal pode “contribuir para encontrar soluções” para as “fortes tensões” perante o processo de alargamento, “um processo vital, tal como é o processo de aprimoramento da nossa forma de trabalhar em matéria de política externa”.
“Aquilo que temos visto é que as nossas regras europeias são demasiado pesadas para o desenvolvimento de posições consensuais, e, pior do que isso, abrem-se à possibilidade de abusos por parte de um pequeno número de países que se habituaram a paralisar os consensos europeus para obterem ganhos individuais, por vezes em matérias não relacionadas sequer com o assunto em discussão. Os casos de má-fé têm vindo a aumentar”, referiu.
Este ano, avisou, “temos impreterivelmente de encontrar caminhos novos, para que a União Europeia possa ser estrategicamente relevante”.
Outro palco, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), “pode ser mais enquanto ponto de encontro de países de quatro continentes e cinco sub-regiões, num mundo em crise”, defendeu, sugerindo que seja potenciado, em particular no espaço das Nações Unidas, “o relacionamento de fraternidade e partilha”.
Gomes Cravinho destacou ainda que este será “um ano de grande intensidade”, com Portugal como convidado, pelo Brasil, a associar-se ao G20.
“O convite foi-nos estendido porque somos comprovadamente um país que sabe estabelecer laços de forma multivetorial, e isso é uma qualidade cada vez mais necessária nos tempos que correm”, considerou.
Por fim, Portugal concorre a um lugar de membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, em junho de 2026, e a candidatura em si “constitui um palco da maior relevância”.
“Ganhamos uma capacidade de interlocução internacional cuja relevância vai muito para além do propósito imediato. Estes dois anos e meio até às eleições em junho de 2026 representam um importante investimento da nossa política externa não apenas na angariação de votos, mas sobretudo na compreensão plena deste mundo fragmentado e à beira da desordem global”, apontou.
O Seminário Diplomático, que decorre entre hoje e quinta-feira, reúne anualmente diplomatas portugueses, espalhados por 134 postos do mundo, para debater com o Governo as prioridades da política externa portuguesa. Na edição deste ano, são oradores convidados o alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, e o chefe da diplomacia de Singapura, Vivian Balakrishnan.