“Ab initio” foi o nome dado às últimas buscas que varreram a Madeira. Pessoalmente gosto do toque “latinado”. Sempre fica melhor do que “desde o início”. Mal posso esperar pelo “in vino veritas”, ou pelo “utilius tarde quam nunquam”.
É que não sei vocês, mas eu já começo a achar que estas “operações” do Ministério Público são como a Covid. No início, toda gente queria saber quem tinha, onde, quando e como tinha apanhado. Depois, a certa altura, não ter estado positivo era já quase um motivo de vergonha. Pois bem. Pelo andar da carruagem, não tarda e ai do secretário, autarca, empresário, presidente de instituto ou afins que não tenha no currículo, pelo menos, uma noite mal dormida com os costados na Cancela. Livre-se... Será, porventura, sinal de que não (se) soube governar!
Talvez por isso, e imune (literalmente) à polémica, Miguel Albuquerque apressou-se a explicar, pela enésima vez, que “qualquer denúncia anónima pode levar a um auto de buscas”. É, portanto, normal. E é bom que a malta se vá habituando...
Não sei se adivinhando chuva, do nada, a minha maravilhosa consorte começou a levantar-se mais cedo para fazer o pequeno-almoço. Juro! Pela minha saúde. Na quinta foram torradas com sumo de laranja. Na sexta? Panquecas. Comemos todos, excepto ela, e ainda sobraram algumas. Na altura não percebi o porquê do exagero na dose... Achei um desperdício. Mas agora, depois dos últimos acontecimentos, faz sentido! Ela sempre detestou correr o risco de receber visitas e não ter nada para pôr na mesa.
E eu assim espero que continue por muitos e longos dias. Por 2 razões! 1.º porque saio de casa já com o tal de jejum intermitente interrompido de manhã cedo. 2.º porque um dia pode acontecer mesmo... Sim, acredito piamente que ninguém está livre! Pelo menos a ver o que está a acontecer também ao filho do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Então não é que, segundo consta, Nuno Rebelo de Sousa, fez 14 pedidos ao pai desde que este tomou posse? Mas calma, só 6 é que foram aceites. Está bem que um deles valeu por 2, vá...
Mas então e eu? Quantas cunhas não meti ao meu pai? Oxalá tenham escutas, porque eu cá perdi a conta às vezes que depois de me perguntarem: “Pedro, sabes se o teu pai está a trabalhar?”, me pedem que ele observe alguma criança pois a coitada já foi 3 vezes às urgências, tomou os remédios que a avó “receitou” e levou 1 massagem da vizinha para virar o bucho e continua muito queixosa. Mesmo sentindo-se, algumas vezes, o último recurso, nunca me disse que não! “Manda-os vir e digam que vêm da tua parte”. Desligo todo cagão. Sinto-me o dono da chave da retrete. Não faço nada, mas fico com a sensação de que dei um “jeitinho”. Tonto!
No entanto, mais tonto fiquei foi com tanto alarido, por estes dias, à volta do Palácio da Justiça. É que num dia falava-se de bloom e carros topo de gama e sobre os detidos pouco ou nada se sabia... Já no seguinte, suspeitos da prática de crimes de colarinho branco, divulgavam-se, à boca cheia, os nomes do ex-secretário regional da Agricultura, do seu ex-diretor regional, dos sócios da Dupla DP, do presidente do IASaúde, do presidente da Câmara da Calheta e de duas funcionárias públicas. O único arguido não detido era o secretário-geral do partido, ainda que este tenha garantido que se fosse necessário pediria o levantamento da imunidade parlamentar para colaborar com a justiça. Só que até agora não foi necessário. Pronto... Não foi, não foi!
Adiante, e continuando o meu desabafo sobre a desigualdade de tratamento dado aos suspeitos, dos últimos partilhavam-se fotos algemados e a chegar ao tribunal sob medidas de extrema segurança... É assim: se me perguntarem se são todos uns santos? Provavelmente não. Se punha as mãos no fogo por algum? Tampouco. Mas perigosos, ao ponto de ser preciso empunhar shotguns e fechar estradas, também não me parecem. Tanto é que, horas depois, foram todos corridos com medidas pouco ou nada gravosas.
Palavra de honra. Exceptuando a suspensão da actividade do cargo público que desempenha um deles, os oito arguidos ficaram apenas sujeitos ao Termo de Identidade de Residência (TIR). E depois? Por aí, nada demais. Obrigação de pedir autorização ao tribunal para se ausentarem da região, mas sem privação do passaporte? Também nenhum mal vem ao mundo por isso. Vivo assim há anos. Vá, o pior de tudo pode é ser a proibição de contacto com os demais arguidos. Sim, é que 2 deles, pelo que se diz, são um casal... E eu só penso, ao mesmo tempo que me arrepio, “e se fosse comigo?”. Ai... Cruzes credo. Deus me livre, mas quem me dera.
Ps: mentira amor. Não vivo sem ti! E digo-te mais. Só não me caso contigo no Fanal porque fica longe e a actual secretária da Agricultura, Pescas e Ambiente diz que aquilo é onde param os carros. Vou ver se autorizam antes no Heliporto da Proteção Civil. Sim, seria o local ideal para quem é gira e boa como tu! Mas nem é tanto por isso. É que estive a ver e fica no Caminho do Pináculo. Bem, pelo sim, pelo não, em vez de véu e cauda longa, leva antes um paraquedas! Caso contrário corremos o risco de ficarmos conhecidos pelo “até que a morte nos separe” mais rápido da história.