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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

2/07/2024 06:00

Durante a noite eleitoral europeia, em França, dados os resultados, e sobretudo o grande avanço do Rassemblement national, o presidente francês dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições legislativas para 30 de junho e 7 de julho, com uma possibilidade de o partido populista de extrema-direita, que ficou em primeiro lugar nas europeias, poder formar governo, o que teria um grande impacto não só neste país, mas também na Europa e arredores.

Ainda em junho se celebrava o dia do Desembarque, e, entre outras coisas, leu-se a correspondência de soldados aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Numa das missivas, dizia-se que um soldado na Grande Guerra o que queria era que esta acabasse, e que não houvesse outra; que o próprio soldado que escrevia a missiva durante a II Guerra Mundial o que mais queria era que esta guerra acabasse e não houvesse outras. Teremos de mudar o recado de Adorno a Adolfo [Hitler] no poema da Filipa Leal: terá de haver duas sem três. Pensei que essa memória recente dos 80 anos do desembarque poderia ter impacto nas eleições europeias em França, dada a sua proximidade temporal, mas enganei-me. Por exemplo, ver o atual chanceler alemão cumprimentar um veterano estado-unidense não é, nem pode ser, anódino, e apesar de nenhuma delegação russa ter sido convidada devido à invasão da Ucrânia, declamou-se a outrora ostracizada poetisa russa Anna Akhmatova.

Um dia antes de se confirmar que a aliança liderada por uma força de extrema-direita ficou em primeiro lugar na primeira volta das legislativas francesas com cerca de 33% dos votos, apesar de o resultado final estar em aberto pois haverá segundas voltas em várias localidades francesas, fui ver o filme O Monge e a Espingarda de Pawo Choyning Dorji, um realizador butanês, que já havia realizado Um Iaque na sala de aula. Em 2006, o rei decidiu, em prol da modernização, abrir o país à televisão, à internet e à democracia. Assim, para preparar as primeiras eleições do país, o que sucedeu em 2008, era preciso aprender a votar, a debater-se com interesses difusos, fazer escolhas, e saber lidar com o que isso implica. Para o efeito, organizou-se uma simulação de campanha eleitoral e de eleições para que as pessoas percebessem o que estava em jogo.

O destino quis também que fosse nesse dia de eleições que a minha filha mais velha tivesse o seu espetáculo de dança de fim de ano, 1001 Danças. O centro coreográfico de Estrasburgo (França) apresentou dança clássica e contemporânea, incluindo hip hop, e coreografias variadas, sob a égide de Estrasburgo 2024 – Capital Mundial do Livro, com uma bonita homenagem a Sempé. A arte ajuda-nos a enfrentar estes grandes desafios, como no Festival d’Avignon, onde se convocou uma noite de resistência para 4 de julho com o intuito de defender os valores republicanos.

Não se sabe o que acontecerá em 7 de julho, apesar de apetecer dizer, como Simone Veil, que sobreviveu aos campos de concentração nazi, que propugnou pela lei do aborto francesa, e que foi a primeira presidente eleita do Parlamento Europeu, olhos nos olhos à extrema-direita, como ela o fez: Même pas peur! (Nem medo temos!), mas, como dizia a professora de dança: une petite peur, quand même (um bocadinho de medo, mesmo assim).

Na passada semana, a tocha olímpica entrou pela primeira vez num parlamento, o do Conselho da Europa, em França. Por essa ocasião, o presidente grego dessa assembleia disse «bem-vinda, tocha olímpica da paz, ao berço dos direitos humanos». Além disso, explicou que, na Antiga Grécia, um idiota era aquele que se afastava da Agora, onde se discutiam os assuntos da cidade. Falava de tochas, não de fachos. Escrevendo no Dia da Região e das Comunidades Madeirenses, recordo que a democracia madeirense, como a primavera, ai vai assim, assim, assim.

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