Ao longo dos anos, temos verificado que os compromissos eleitorais vão sendo diluídos, parecendo que cada vez mais ninguém presta atenção a esses "pormenores", preferindo orientar-se pelo "show off" que cada partido monta. A coerência em política será ainda importante e valorizada pela população e/ou pela classe política?
Dois exemplos das eleições do dia 24 de setembro, na RAM:
1. O candidato de um partido que afirma que os portugueses são aldrabões e que só querem viver à conta dos subsídios, candidata-se a eleições, mas antes submete-se a juntas médicas que o declaram com uma doença incapacitante, com necessidade de cuidados "inadiáveis", que não lhe permitem trabalhar. 3 dias depois vai para a pré-campanha e para a campanha com o seu líder nacional, andando sem qualquer problema físico ou sofrimento visível. Afirma-se no documento que não poderia trabalhar, nem fazer caminhadas. Toda a gente o viu na rua, a fazer propaganda eleitoral antes e durante os dias de campanha. Arruadas também. Ou seja, um político que diz que os portugueses são um conjunto de aldrabões oportunistas, usa os subterfúgios que critica, para fazer campanha eleitoral, sem perder o seu salário, continuando a recebê-lo à custa dos impostos de todos os outros portugueses (https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/candidato-do-chega-na-madeira-meteu-baixas-mas-fez-pre-campanha).
2. O líder do PSDM afirmou ao longo da campanha: "Se não ganhar as eleições, demito-me. A clareza é essencial para as pessoas perceberem. Não vou fazer entendimentos, portanto, ou votam nesta maioria e querem que se prossiga o caminho que temos seguido ou não votam nesta maioria. Se não votarem nesta maioria, vou-me embora". "Governos de coligação não funcionam. Só servem para empatar."
No primeiro caso, o partido que tem um "português de bem" que usa o dinheiro dos contribuintes para não ir trabalhar, elegeu 4 deputados à Assembleia Legislativa da Madeira. No segundo, após perceber que não obteve a tal maioria que exigia, o personagem não só não foi embora, como decidiu acrescentar um andarilho à muleta que já tinha arranjado no executivo anterior, formando um governo de maioria parlamentar. Ainda afirmou que em política tem de se usar estes subterfúgios para se governar. Já o andarilho traiu os seus eleitores e assinou o acordo.
Hoje percebemos que as democracias estão em risco e que os perigos vêm do interior do próprio sistema. As pessoas compreendem e apoiam a ideia de que a palavra e a ética deixaram de ser valores em política. Enganar o eleitorado passou a ser um argumento válido para a manutenção do sistema. Os "novos partidos" surgem bem oleados com dinheiro e com um discurso agradável, acusando de corrupção os "velhos partidos" e associando-os a esquemas. O eleitorado vai nesta onda de novidade e nulidade, contra os seus próprios interesses. O que é um facto é que não há novos partidos. O que há é um poder que se mantém nas mãos de 1% da população, sendo que os outros 99%, sem se aperceberem do seu poder, julgam que a segurança, o emprego e a felicidade estão nesse 1% que os continuará a explorar e enganar.
Para compor a destruição do sistema, exige-se reflexão a quem clarificou o seu programa e apontou soluções concretas para os problemas da sociedade madeirense, apresentando essas pessoas como as verdadeiramente derrotadas e colocando em pedestais quem traiu o seu eleitorado.