Constituiu uma lição, uma grande lição para as democracias com idiopatia da violência, a transição serena e formação de um Governo de Unidade Nacional que se pode afirmar sem pejo que contrasta com as pesquisas mortais da Venezuela, por exemplo, mas há muitas outras em que prevalece um descaramento repugnante com as mentiras eleitorais.
As eleições de 28 de julho em Venezuela caracterizaram-se por alegações de um “ataque cibernético eleitoral estrangeiro” acompanhadas de toda uma condenável repressão que colocou o déspota Nicolás Maduro de volta ao poder com 51,2% dos votos, com o candidato da oposição a obter alegadamente 44,2%.
O governo de Maduro, como era expetável, foi imediatamente acusado de fraude massiva, milhares de pessoas detidas e dezenas mortas, em protestos de violência pós-eleitoral que rejeitou à nação bolivariana a mudança de uma era.
Na África do Sul, o ANC, serenamente, fez uma pausa para reconhecer a derrota após estar no poder há 30 anos, aceitando com dignidade os resultados eleitorais os quais deram origem ao presente Governo de Unidade Nacional, um governo multipartidário ou de coligação.
Pela vez primeira na sétima legislatura, após a incoação da democracia na África do Sul nenhum partido político obteve uma maioria, mesmo a nível de qualquer comissão parlamentar.
Na inauguração do Governo de Unidade Nacional o maio alto magistrado da nação sul africana, Cyril Ramaphosa descreveu este híbrido como o início de uma nova era salvaguardando a unidade nacional, o crescimento económico inclusivo, não-racial, não-sexista de estabilidade e paz.
Porém, não nos devemos enganar, a ameaça da violência esteve e está presente nos jardins de Jacob Zuma no Kwazulu-Natal como se pode inferir dos acontecimentos de 21 de julho de 2021 em que pereceram 350 pessoas e centenas feridas fazendo que 39.000 perdessem os seus meios de subsistência numa província onde toda a violência teve um impacto massivo e que vários madeirenses sofreram prejuízos indizíveis.
Perante tal violência que fez tremer a nação sul africana, Ramaphosa manteve-se firme e denunciou a situação criada como um ato de mobilização étnica.
O verdadeiro ANC, tomado de surpresa pelo grau de apoio ao partido do ex-presidente Jacob Zuma, o MKP que se catapultou para a Assembleia Nacional como o maior partido da oposição.
Esta derrota eleitoral tirou a maioria representativa na Assembleia Nacional com a perda de 71 deputados originou uma governação de coligação e em tão pouco tempo lançou o Projeto 2026 para o partido que se respeitar a Lei e a Constituição determinará o que vai acontecer numa data não tão distante.
A nação arco-íris encontra-se novamente com um futuro empolgante à sua frente que certamente terá como apanágio a promoção duma inclusão real e de coesão social que os seus líderes não devem destruir essas perspetivas em troca de 30 moedas de prata.
Pode-se assumir sem dificuldade que a África do Sul se distanciou das cercanias do vulcão muitas vezes, anteriormente, e voltou a fazê-lo novamente, o que é deveras reconfortante para todos e se pode entender de uma lição, de um exemplo para as ditas “democracias” vitaliciamente propensas à intolerância, à violência e à guerra que lamentável e criminosamente continuam a existir e desfrutam o apoio de países europeus onde se inclui, incompreensivelmente, Portugal, com conselheiros, instrutores militares e tropas de elite.