i) Inefável foi a palavra mais procurada em 2024 no dicionário de referência da Priberam. É um adjetivo normalmente apreciativo, implicando algo que é agradável, encantador. No entanto, quando assume a designação de “indescritível”, pode transportar algum pejo associado;
ii) Miguel Prata Roque, anteontem na SIC, respondia ao repto de Miguel Morgado, que apelava a Marcelo para que desse tempo ao PSD e PS da Madeira para clarificarem as suas lideranças antes da regionais de 2025, afirmando na ocasião Prata Roque, sem rir, que “Cafôfo é indiscutível, pois ganhou recentemente a câmara do Funchal (!!!! SIC) e tem tido excelentes resultados eleitorais”. Aguente-se na cadeira, caro leitor. Pode dar-se o caso do comentador socialista desconhecer em absoluto a realidade regional. De facto, ganhar a câmara em 2013 e sair em 2019 não é propriamente “recente”, em política. E se lembrarmos que, desde esse ano de 2019 já perdeu 9(nove!) eleições seguidas, mantendo metade da representatividade parlamentar relativamente ao seu adversário (PSD) que vive uma crise há cerca de um ano, podemos dizer que “excelentes resultados” é uma avaliação mais que eufemística. É inefável!
iii) Talvez não seja, porém, desconhecimento da realidade regional, mas apenas uma nova concepção da designação “excelentes resultados” por parte da entourage rosa! Estive no Porto esta semana e percebi em dignitários socialistas uma grande confiança na repetitiva candidatura de Manuel Pizarro, à Câmara do Porto no próximo ano. Estamos a falar de alguém que já teve “ excelentes resultados” anteriormente, perdendo para a Assembleia Municipal em 2001, e para a câmara em 2005, 2013 e 2017, nestas duas últimas como cabeça de lista e candidato a presidente. Um vencedor, obviamente! Não obstante, o partido socialista lá lhe tem obsequiado com lugares como deputado, Secretário de Estado e, imagine-se, até Ministro! No fundo, como aconteceu com Cafôfo em que, independentemente das vitórias morais traídas pela ditadura das urnas, foi, entretanto, deputado na República e Secretário de Estado. A solidariedade socialista é, sem dúvida, inefável!
iv) Falando em Câfofo, pensava-se que poderia capitalizar as dificuldades do PSD para se afirmar, finalmente, como solução para o impasse governativo. Mas propor coligações através da comunicação social, sem falar com os interessados, querer juntar IL e BE (!!!), e recuar afirmando que, afinal, acordos só depois das urnas, é absolutamente...inefável!
v) Continuando no líder socialista, os sinais que vai dando demonstram que continua, diria, “obcecado “ com o eleitorado luso-venezuelano, provando que não ultrapassou a derrota de 2019, a única em que teve realmente possibilidade de ganhar, e que o próprio atribuiu à concentração de votos de regressados no PSD. Não, caros amigos, não me passa pela cabeça sugerir que o facto de ter um relacionamento amoroso com uma luso-venezuelana tem conexão com o atrás descrito, até porque o amor tem cambiantes próprias que se auto-justificam. Mas como explicar a nova abordagem nas redes sociais em que partilha imagens a comer 20 (!!!) arepas, ou filmagens de uma festa de pijama com um conjunto de casais provenientes da Venezuela? É, já adivinhou...inefável!
vi) Encerremos com o PSD, o partido que tem marcado a cadência político-governativa nos últimos 48 anos, na Madeira. A jusante do que os próximos capítulos nos trouxerem, o partido da Autonomia tem de se mostrar liderante, federador, inequivocamente ganhador e imaculado aos olhos do eleitorado. O cidadão madeirense é, por defeito, social-democrata. Identifica-se naturalmente com os princípios personalistas, social-cristãos e liberais, na economia, da nau laranja. Temos de voltar a dar razões para que os nossos eleitores, no recato da cabine eleitoral, coloquem a cruz nas “setinhas para o céu”. Sim, no recato, sem fotos de ocasião para ambicionar ou justificar lugares. Isto é o essencial, pois tudo o resto é, indiscutivelmente... inefável! Boas festas!