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Artigo de Opinião

17/08/2021 08:00

O golpe mais mesquinho que assisti em todo o meu percurso político, para eliminar outras forças políticas. Afinal isto de querer ganhar fora de campo, não é só no futebol. Também na política há quem queira ganhar na secretaria aquilo que não conseguem alcançar dentro do campo. Uma vergonha irremediável para um partido que se arroga democrático. Mário Soares, deve estar a dar voltas no túmulo por ter visto o PS/Madeira a tentar impedir outros partidos de concorrer a um ato eleitoral. Algo nunca antes visto!

Foram piores que o Tribunal da Santa Inquisição. Nem o mais pequeno e insignificante pormenor escapou, creio que até as virgulas fiscalizaram, na ânsia de inviabilizar listas. Da esquerda à direita ninguém ficou a salvo. Passaram a pente as listas dos partidos em todos os concelhos da Madeira, a fim de encontrar alguma irregularidade processual e com isso eliminar administrativamente, outras candidaturas eleitorais. E quando isso não foi suficiente até alegaram ilegibilidades que nem existiam. Nem sequer o Tribunal se dignou a tamanho papel. É preciso ser "mais papista que o papa" para tentar inviabilizar uma candidatura por esta via. Porque acreditem, se há processo penoso é o trabalho burocrático das eleições autárquicas. Reunir centenas de candidatos, preencher declarações de candidatura, pedir certidões de eleitor, organizar e fazer listas de acordo com o exigido na lei é um bico de obra. Sobretudo, quando os recursos humanos são escassos. A coisa é pior que o caminho do calvário. Testo o meu nível de "fanatismo" à política durante o período de preparação das candidaturas às eleições autárquicas. É um trabalho extremamente moroso, feito à moda antiga, tudo ainda em papel. Nada está informatizado é uma verdadeira dor de cabeça. Não é por acaso que o sistema não foi modernizado, nem simplificado, há uma intenção clara em dificultar o processo, para impedir a participação democrática. A lei ao exigir certidões de eleitor que são exclusivamente emitidas pelas juntas de freguesia acaba por dar uma arma poderosíssima aos caciques do poder local. O controle que os presidentes de junta fazem aos candidatos das várias forças políticas e a quantidade de pessoas que desistem de ser candidatos, porque são abordados ou questionados pelo presidente da junta de freguesia é impressionante e revela bem o nível de amadurecimento da nossa democracia.

O sistema está feito, exatamente, para beneficiar os partidos grandes. Estes possuem batalhões de funcionários pagos para tratar das mil e uma exigências que a lei requer. Um partido emergente, sem funcionários pagos, onde todo o trabalho é feito a título voluntário é necessário muita amor à camisola para formalizar uma candidatura.

Tentar impugnar uma lista, só porque falta 2% ou 3% para cumprir com a Lei da Paridade, quando todos nós sabemos que a margem de erro e de lapsos involuntários é grande num processo tão trabalhoso e manual é simplesmente maldoso. Felizmente, as intenções do PS foram derrotadas e as listas acabaram aprovadas. Agora os leitores que façam o seu próprio juízo de valor. Um Partido que usa os recursos que dispõe não para servir o interesse público, mas para arranjar formas de sabotar as outras forças políticas, o que tem para oferecer ao nosso povo?

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