Se do ponto de vista "humano" a recuperação da massa humana foi visível e importante, já do ponto de vista desportivo, pelo menos no que concerne à equipa principal, foi um total fiasco. E aqui é importante referir que a culpa não é de um homem só. Há vários responsáveis. Desde logo a primeira administração da SAD, liderada então por João Luís. A péssima preparação da temporada, que agora não vale a pena voltar a remexer, foi o princípio de uma morte anunciada. Os conflitos que daí nasceram, as opções tomadas, muitas delas erradas, levaram à situação que o clube hoje se encontra. Incluindo uma impensável descida de divisão, quase 4 décadas depois, o maior e mais terrível pecado desta gerência.
É certo que não vale a pena chorar sobre leite derramado, mas é igualmente importante perceber o que correu mal e evitar que tal volte a acontecer. Quem eventualmente vier a suceder no comando do clube não pode cometer os mesmos erros e o seu projeto não pode ser apenas um "projeto de tirar quem lá está".
Por isso, queria apenas partilhar convosco algumas notas que acho importante para o presente/futuro do nosso clube: desde logo, insistir na dicotomia entre a direção do clube e o CA da SAD não faz qualquer sentido, particularmente face à organização das organizações em Portugal. No Marítimo, tal como noutros clubes, o problema começou por aqui. Por outro lado, andar sempre com a conversa do "profissionalizar o clube" é mesmo conversa para ‘encher chouriço’. O que é preciso são pessoas que percebam da poda, sobretudo naquilo que é a ligação entre a direção e a equipa, dotando o clube de gente do futebol, com experiência e conhecimentos comprovados. Depois é preciso encurtar o clube na sua atividade. O ecleticismo é algo muito bonito de se mostrar, mas é contraproducente, sobretudo face aos custos que hoje implica qualquer atividade desportiva. E acima de tudo é muito importante procurar um parceiro investidor para a SAD do clube, de forma que seja possível garantir o necessário financiamento para o crescimento do futebol profissional do Marítimo. Esta é uma inevitabilidade dos tempos que correm e se queremos um Marítimo capaz de regressar à primeira liga e lá ser capaz de lutar por lugares mais cimeiros da tabela, a entrada de um parceiro estratégico, com capacidade de investimento regular é absolutamente vital.
Mas, para isto, é muito importante que regressemos, já esta temporada, à primeira Liga. E para atingir este objetivo, há duas peças fundamentais: a qualidade do plantel e a sua equipa técnica. Se no primeiro caso parece-me que a equipa está de facto recheada para o objetivo em causa (mesmo que se discuta as saídas do Joel, do Pelágio e do Carné) já as dúvidas sobre a capacidade do treinador Tulipa em levar este barco a bom porto estão em crescendo.
Apesar de no final desta jornada continuarmos nos lugares cimeiros, francamente não vejo estofo coletivo nesta equipa para garantir, para já, uma subida. Uma equipa que pretenda ser candidata tem de dominar os seus jogos, especialmente em casa. Jogar a solavancos, como tem sido apanágio deste Marítimo, já resultou na perda de 8 pontos nos Barreiros e só o tempo dirá se não serão pontos importantes. E sejamos justos. A forma de jogar desta equipa não é um corolário do desnorte da direção cessante do Marítimo. A postura e interpretação tática em campo é resultado do trabalho semanal imposto aos jogadores, determinado pela equipa técnica. Afinal uma equipa joga o que treina.
E a realidade é indesmentível. Em 4 partidas em casa o Marítimo apenas venceu uma. A título meramente comparativo, Moreirense e Farense, no ano da sua promoção, não registaram qualquer desaire em casa, registando cada cerca de 60% dos pontos totalizados nos jogos caseiros. E há que dizê-lo com todas as letras: meu caro mister Tulipa, não é responsabilidade dos adeptos o facto de não conseguir pôr uma equipa a jogar para ganhar em casa. É sua. Quase 7 mil pessoas foram ao estádio apoiar o Marítimo à espera de uma vitória. Não foi isso o que receberam, nem é isso o que têm recebido. Logicamente algum dia iam perder a paciência. Não gosta? Então está na profissão errada.
O momento é de mudança. Sejamos capazes de a fazê-la competentemente.