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Artigo de Opinião

Consultor

31/07/2024 08:00

Tradicionalmente, as relações de amizade têm sido consideradas o parente pobre das relações. Historicamente, o seu papel tem sido negligenciado no que toca à saúde e bem-estar. O que constitui um tremendo erro.

As amizades reforçam o sistema imunitário, previnem a hipertensão e promovem uma vida mais longa e saudável. Os amigos ajudam-nos a dormir melhor e até a sarar mais depressa. Por seu turno, amizades tensas são um indicador significativo de doença crónica. Já o isolamento social representa um risco de mortalidade maior do que os suspeitos habituais, como o tabagismo e o elevado colesterol.

Não é que amizade seja melhor para a saúde que outro tipo de relações, como as românticas e familiares ou até as profissionais e comunitárias. Cada uma tem o seu lugar. É a qualidade dessas interações que mais importa, o que significa que podemos receber cuidados de um familiar quando estamos doentes, bem como de um amigo. Estes merecem consideração e não devem ser sempre relegados para o fim da nossa lista de prioridades. Em muitas situações, a amizade pode mesmo ser mais confiável e funcional do que o próprio casamento ou restante família.

A investigação sobre a amizade revela também diferenças significativas ao longo da nossa vida, existindo uma espécie de curva em forma de U: são extraordinariamente importantes para a construção da identidade na nossa adolescência e início da idade adulta, menos proeminentes durante a meia-idade, recuperando em idade avançada. Segundo a teoria da conetividade socioemocional, à medida que envelhecemos e a nossa noção do tempo muda, tornamo-nos mais seletivos. Enquanto na idade adulta jovem, podemos gastar tempo com diversos tipos de amizades porque estamos a explorar, na idade adulta avançada cortamos muitas das relações que deixaram de ser benéficas para nós. Assim, a qualidade das nossas amizades é importante, especialmente à medida que envelhecemos. Mas mesmo as amizades casuais são proveitosas ao longo da vida. Os laços fracos são úteis para alargar o nosso acesso à informação, ao passo que as amizades fortes dão um apoio fundamental. Diversidade é a palavra-chave. Ter uma maior variedade de relações sociais parece ser melhor para a nossa saúde. As amizades mais frágeis valem a pena manter, desde que as pessoas estejam em sintonia quanto às suas expectativas. Assim, se um amigo espera encontros semanais enquanto o outro prefere apenas alguns convívios anuais, existe um claro desfasamento que apraz ser clarificado.

Cultivar a amizade deve ser um processo que dura uma vida inteira, é um músculo que tem de ser trabalhado. Do ponto de vista clínico, isto significa que as intervenções em saúde destinadas a combater a solidão não visam apenas os idosos. A prescrição social, em que os clínicos prescrevem atividades sociais e recreativas, em paralelo ou em substituição a um tratamento dito convencional, é profícua em todas as idades. Ao construirmos e preservarmos as nossas redes sociais, tornamo-nos mais capazes de lidar com as vicissitudes da vida. Uma lição a reter é que os amigos não devem ser tomados como garantidos. O tempo disponível é limitado e a amizade requer um investimento. Esse investimento nem sempre é fácil, mas rende os seus dividendos.

Parafraseando Albert Camus, vencedor do Prémio Nobel de Literatura em 1957: “Não andes à minha frente... eu posso não seguir. Não andes atrás de mim... eu posso não liderar. Caminha ao meu lado... sê apenas meu amigo.”

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